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Vinte e sete músicos que haviam abandonado, por dissidências, a Filarmónica Artístico Funchalense fundaram a 9 de Setembro de 1872, num edifício contíguo à Igreja de Nossa Senhora do Carmo, a Filarmónica Artístico Madeirense. Liderados por César José Coelho, que foi o primeiro regente da nova colectividade, “Os Guerrilhas”(como ficaram popularmente conhecidos), trajados de casaco azul, calça branca e chapéu de palha, terão brevemente iniciado a sua actividade artística nas festividades religiosas das paróquias do Funchal: desde 1875 a Filarmónica Artístico Madeirense apresentou-se em “funções sacras” na Sé (São Pedro), Monte, Santa Luzia, Consolação, São Roque, Santa Maria Maior, Santa Catarina, São Martinho, Santo António e São Gonçalo, deslocando-se ainda às paróquias do Caniço e Camacha. No dealbar do novo século, a Filarmónica Artístico Madeirense contava já com um notável número de sócios-executantes, pois em 1903, a colectividade organizou três divisões para as festas do Espírito Santo na Calheta, Prazeres e Camacha. Ademais, desde 1900 a mesma filarmónica oferecia ainda o préstimo de uma orquestra de igreja e coro, constituído(s), em 1903, por vinte e sete músicos, sob a regência de Gama, e que ainda em 1921 prosseguia a sua actividade.
A Filarmónica Artístico Madeirense – que por diploma régio adoptou, desde 12 de Janeiro de 1908, a denominação Real Filarmónica Artístico Madeirense; e que após 1910, empregou a denominação Banda Republicana Artístico Madeirense, vindo, por deliberação da Junta Geral do Distrito a tomar definitivamente, desde 2 de Junho de 1925 o título Banda Distrital do Funchal – “Os Guerrilhas” –, serviu ainda em actos oficiais e outras cerimónias cívicas, prestando-se à saudação das entidades civis, militares (e, quando a propósito, à imprensa), ora garantindo a animação das comunidades madeirenses no decurso das celebrações, ou realizando alguns concertos de música instrumental erudita. A filarmónica associou-se às comemorações realizadas no Monte pela visita do Rei D. Carlos I e Rainha D. Amélia à Madeira, em 1901; tomou parte ainda nas habituais celebrações da Restauração da Independência (1919, 1922, 1924), da Proclamação da República e da Revolução de 28 de Maio (1943, 1952); nas comemorações do V Centenário do Descobrimento da Madeira (1922); nas inaugurações do Caminho de Ferro do Monte (1895) e do monumento ao Conde do Canavial (1922); nos desfiles públicos e na récita de gala em louvor ao sucesso da travessia aérea do Atlântico dos aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral no Teatro Dr. Manuel de Arriaga (1922), e dois anos volvidos, na récita em benefício do intento dos aviadores portugueses Brito Pais e Sarmento Beires, no Cine Ideal (1924); no Dia do Desporto (1934) e no Dia de Consagração do Automóvel (1935); e ainda nas regulares Festas da Cidade e nas frequentes feiras populares organizadas por organismos governamentais e por instituições artísticas e desportivas, entre, seguramente, muitos outros eventos, dos quais, não dispomos, à corrente data, de fontes documentais.
A Filarmónica Artístico Madeirense ofereceu ainda o seu contributo artístico em várias iniciativas beneméritas, de entre as quais a quermesse da Cruz Vermelha de 1924, destinada à angariação de fundos para a construção dum imóvel adequado para operações; a récita de caridade para o Natal das crianças pobres, realizada no Teatro Funchalense em 1925; e ainda a festa ao ar livre em favor dos tuberculosos, que se realizou em 1934, entre outras várias iniciativas de caridade social. Tais actos beneméritos mereceram o reconhecimento de instituições de Estado e da associações, em sucessivas distinções: Medalha da Cruz Vermelha Portuguesa, por dedicação e filantropia (Diploma de 20 de Janeiro de 1924); Medalha de Prata de Filantropia e Caridade dos socorros Náufragos (Diploma de 14 de Julho de 1925); Louvor da Câmara Municipal do Funchal por actos filantrópicos (em Sessão de 9 de Setembro de 1954); Membro Honorário da Ordem de Benemerência, por concessão de Sua Excelência o Senhor Presidente da República (de 14 de Dezembro de 1972).
A colectividade tomou ainda parte em várias récitas e festas artísticas em favor de várias associações comerciais, artísticas e desportivas, da imprensa, e de artistas madeirenses e estrangeiros, tais como os benefícios para o Ateneu Comercial (1889), para o Club Sports Madeira (1916), para o Diário de Notícias (1950); aqueles para o electricista do Teatro-Circo (1917) e para o maestro Artur Ângelo (1921) e ainda as festas artísticas de Luís Vieira de Castro (1924) e José Clímaco (1924). A cooperação da Filarmónica Artístico Madeirense com associações regionais e nacionais prosseguiu regularmente nas décadas seguintes, e merece menção a realização de um sarau em honra do clube Olhanense (1925) e o acolhimento de um Certame de Filarmónicas de Canudo (1932), bem como a participação da colectividade no arraial organizado pelo Recreio Musical União da Mocidade (1935), no sarau artístico do Diário de Notícias, na comemoração do cinquentenário da Sociedade Vinte e Dois de São João da Ribeira (1957) e na Grande Feira Popular do [C. S.] Marítimo (1959), e ainda a homenagem consagrada às bandas açorianas que tomaram parte no Concurso de Bandas Filarmónicas organizado pela FNAT, e que no trajecto para Lisboa, passaram pela Ilha (em Maio de 1960).
Atendendo à solicitação de empresas e artistas, a Filarmónica Artístico Madeirense apresentava-se desde pelo menos 1889, no foyer do Teatro-Circo, e desde pelo menos 1916, realizava breve participações entre actos das récitas, vindo a organizar os seus próprios concertos em 1917, 1922 e 1924 naquele mesmo espaço público. A filarmónica tomou ainda parte em eventos noutros espaços públicos da cidade, apresentando-se, a título de exemplo, no “Arraial Minhoto” realizado no Casino Vitória em 1930. Em 1934, a filarmónica organizou um notável concerto no Teatro Municipal Baltazar Dias, em preparação da sua digressão aos Açores, com várias renomeadas obras do repertório instrumental erudito, sobre a direcção do maestro João Júlio da Costa Cardoso, repetindo-o, dias depois, para proveito e instrução artística das classes menos abonadas, no Jardim Municipal.
Deveras, a Filarmónica Artístico Madeirense contribuiu para a formação das audiências madeirenses na erudita música instrumental, por meio da regular organização de concertos nos teatros, noutros espaços públicos e nas praças da cidade do Funchal (que acresciam àqueles realizados aquando de comemorações cívicas, acima descritos). A colectividade terá iniciado os seus concertos públicos ainda em finais do século XIX ou no decurso da primeira década do século XX, a maioria dos quais aquando da efeméride da fundação: anúncios e crónicas da imprensa fazem referência a pontuais concertos organizados pelos Guerrilhas na Praça Marquês de Pombal e na Quinta Pavão em 1916 e 1919 e ilustram, com particular interesse desde a quarta década do século, a notável actividade da Filarmónica Artístico Madeirense, documentando a realização dos concertos no Jardim Municipal (Jardim D. Amélia) (1934, 1935, 1941, 1954, 1957, 1963, 1969, 1974), Jardim de São Francisco (1943, 1944, 1949, 1950, 1951, 1952) e Palácio de São Lourenço (1957); vários concertos em celebração do aniversário de fundação terão sido realizados, como habitualmente, na sede da colectividade. Nessa notável dinâmica concertística, especial reconhecimento mereceram os executantes e directores aquando de duas digressões: ainda em 1909, a Filarmónica Artístico Madeirense apresentou-se nas festas de Maio de Santa Cruz de Tenerife, a convite da colónia de madeirenses, em dois concertos no Teatro Principal, merecendo rasgados elogios; volvido um quarto do século, por iniciativa de João Araújo, Presidente da Direcção, a Banda Distrital do Funchal rumou aos Açores, visitando sete ilhas e realizando três notáveis concertos em Ponta Delgada, Terceira e Faial.
Estreitavam-se as relações entre executantes, suas famílias e demais associados dos Guerrilhas aquando da celebração dos aniversários da fundação, em vários saraus, bailes, diversões ao ar livre e excursões e naqueles e noutros eventos festivos apresentava-se a banda e ainda vários outros ensembles da instituição. Ainda em 1925, executantes e associados da recém-renomeada Banda Distrital do Funchal – Os “Guerrilhas” – organizaram uma [nova] Orquestra, sob a regência de Costa Cardoso, um Grupo de Ocarinas e um Grupo Dinástico e de Variedades; em 1934 a colectividade acolhia um Grupo Dramático e em 1938 a Orquestra de Jazz “Os Sete do Céu Azul – Distrital Dance” (sob a regência de Amadeu Pestana) e em 1947 a Orquestra Brilhante (sob a direcção de Alfredo Abreu). Em 1955, por iniciativa de Eduardo Brazão e Basílio Caldeira, iniciaram-se os míticos bailes de Carnaval dos Guerrilhas, animados pela Orquestra Brilhante sob a direcção do vocalista Francisco Martins, e que perduraram até 1974.
Naqueles cem anos de actividade musical, assumiram a direcção de Os Guerrilhas César José Coelho (1872 – ?), Ernesto Ciríaco, César Rodrigues do Nascimento, António de Aguiar (1906-1917), Manuel A. de Figueiredo (1918), Nascimento Cruz, Douwens, José de Freitas Gama, Amadeu de Moura Stoffel (1922), Graça (pai), Graça (filho), Tenente Fonseca, João Júlio da Costa Cardoso (c.1925; c.1934) Arnaldo de Vasconcelos (1929-?), João Paulo Ferreira (c. 1941), António Dias Júnior (c. 1943), Firmiliano Martins Cândido (c. 1949) e Abílio Pinto Ribeiro (1950-c.1969).
O assinalável labor artístico da Banda Distrital do Funchal – “Os Guerrilhas” – prosseguiu nas décadas posteriores à celebração do centenário da fundação, sob a regência de Abel Teixeira Mendes (1972-1985); Álvaro Manuel Vicente dos Reis (1985-1986); João Gomes Henriques de Sousa (1986-1993; 1998-2002); Aquilino Domingos da Silva (1993-1998) e Rafael Mendes, seu director artístico nas duas passadas décadas. Pelo seu valioso contributo à cultura popular, a Banda Distrital do Funchal foi distinguida pelo Governo Regional da Madeira, em 1989. Em anos recentes, a Banda Distrital do Funchal – “Os Guerrilhas” tomou parte no Dia da Região na Expo 98.
Merece especial destaque a recente recuperação das iniciativas de Carnaval, que testemunha a consciência histórica de directores e executantes por uma manifestação cultural para a qual contribuiu tão significativamente a Banda Distrital do Funchal – Os Guerrilhas. Em festividades religiosas por toda a Ilha, em comemorações cívicas e eventos beneméritos, em concertos e outros iniciativas, a centenária colectividade continua a proporcionar entretenimento artístico às comunidades locais do arquipélago da Madeira e aos seus visitantes e, graças aos esforços de Rafael Mendes, seu director artístico, e de Cátia Macedo, Presidente da Direcção e docente da Escola de Música, a Banda Distrital do Funchal – Os Guerrilhas – possibilita iniciação musical e a tão salutar prática artística a várias crianças e jovens funchalenses.
Rui Magno Pinto
Bibliografia
[s.a.], “O passado e o presente das nossas colectividades artísticas, desportivas e de recreio
II – Banda Distrital do Funchal” Diário de Notícias da Madeira, 23.05.1935.
Vítor Sardinha & Rui Camacho, Rostos e Traços das Bandas Filarmónicas Madeirenses, 2005.
Manuel Pedro Freitas, “Banda Distrital do Funchal”, Revista Girão.
João E. D. Franco, Bandas Filarmónica Portuguesas, 2011.
Diário de Notícias