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No seio de um incremento significativo ao movimento filarmónico regional em finais do século XIX, se fundou, a 1 de Dezembro de 1895, a Filarmónica Recreio União Faialense (Banda Filarmónica do Faial), por iniciativa de Joaquim Francisco de Freitas, seu primeiro diretor artístico, e João Xavier de Freitas, e com a prestimosa cooperação de Júlio Teixeira, de Manuel Marques Barcelos e, sobremaneira, do Dr. João Albino Rodrigues de Sousa – médico, latifundiário, industrial e político, segundo Tesoureiro da Junta Geral do Distrito – e ainda do Dr. João Catanho de Meneses – advogado e estadista português, com notável exercício político nas décadas finais da Monarquia Constitucional e da Primeira República. Embora se desconheça o período inicial de atividade, é sabido que os mentores da filarmónica faialense celebraram, a 21 de Fevereiro de 1897, “contrato de aprendizagem” por um ano com o Sargento Músico Frederico José Dellanave (1872-?): aquele documento, celebrado pelo tabelião Jacinto da Silva Meneses, com sanção do juiz Carlos João de Sousa, e outros contratos congéneres celebrados, em 20.09.1896, 18.10.1897 e 07.10.1903 entre a Filarmónica União de São Jorge e os mestres Manuel Francisco de Gouveia, Jaime Augusto de Sousa e Francisco Gomes são únicas e valiosíssimas fontes para a compreensão das metodologias artísticas, dos funcionamentos administrativos e financeiros e da condição social de executantes e aprendizes das bandas comunitárias regionais tardo-oitocentistas e primo-novecentistas.
No que concerne à organização da Filarmónica Recreio União Faialense, presumivelmente concebida por Rodrigues de Sousa, determinou-se no documento susodito que Frederico José Dellanave comprometia-se ao “ensin[o] da (…) arte da música (…) para (…) banda marcial” a cerca de 20 aprendizes, em seis dias da semana (diariamente, salvo Domingo) por um ano,, devendo “empregar todo o seu zelo e solicitude pelo [seu] adiantamento” e fornecer, por sua conta, o “papel e a música necessária para a organização da banda” auferindo, mensalmente, 15 mil réis: de facto, faltando ao cumprimento de tais obrigações, deveria indemnizar a sociedade em montante de 50 mil a 100 mil réis, perdendo quaisquer direitos sobre “toda a música (…) [fornecida] à sociedade”, repositório que garantiria a mais fácil substituição do regente; além do termo do contrato com o mestre contratado, perdia a sociedade a posse daquele repertório, se não cumprisse os seus encargos do “contrato de aprendizagem”. Definido o instrumento pelo mestre, cada executante devia avançar com a importância para a compra do seu instrumento, perdendo o direito a ser ressarcido daquele dispêndio se abandonasse a sociedade, salvo fosse chamado ao serviço militar; por falecimento, depreende-se que o montante despendido seria retribuído aos seus dependentes ou familiares. Devia ainda o executante comparecer três vezes por semana aos ensaios realizados à hora das Ave-marias (presumivelmente, às 18 horas) e contribuir com 100 réis, uma percentagem dos valores que auferisse por cada função [sacra ou profana].
À direção e aos associados protetores da coletividade competia sustentar o vencimento do mestre, os custos de funcionamento da coletividade e garantir as instalações e o pagamento respetivo de montantes de água e luz: sabe-se, a esse propósito, que, em inícios do século XX, a família Catanho de Menezes havia cedido à recém-criada coletividade um velho engenho ao sítio do Bairro dos Moinhos (Sítio das Covas) para as aulas e ensaios. (O “contrato de aprendizagem” terá sido seguramente renovado: Dellanave, morador, à data da celebração do compromisso profissional, à Rua das Pretas, freguesia da Sé, ter-se-á mudado para o Faial, e ali residia ainda em 1898 no Faial, ano em que batizou a sua filha.)
Do trabalho profícuo de Frederico Dellanave e da célere aprendizagem e da competência dos cerca de vinte aprendizes, a maior parte dos quais lavradores, dá conta a atuação da Filarmónica Recreio Instrução Faialense, cinco meses depois, numa festa religiosa em São Roque do Faial, relatada no Diário de Notícias de 18 de julho de 1897.
Tomaram a regência da Filarmónica Recreio Instrução Faialense no decurso da primeira metade do século XX os sargentos-músicos Gualberto, João da Costa Ramiro, Ângelo Serrão, Manuel [do] Nascimento [Cruz?], João de Freitas Mendonça (c. 1924), João Pinto Oliveira Rocha (+1955) e os professores Crisóstomo [Teixeira] do Livramento (+ 1964) e António Augusto de Freitas. A atividade da coletividade em festividades religiosas, festas populares e eventos cívicos surge documentada em vários dos periódicos regionais e em registos fotográficos: destacou-se então na imprensa, além das apresentações locais, a atuação da filarmónica faialense na Praça da Constituição em Junho de 1902; a receção ao Major Sarsfield em 1904 e a sua participação, a par com outras cinco filarmónicas regionais na Festa do Santíssimo Sacramento em Câmara de Lobos em 1909, e, em 1919, na Capela do Livramento (Monte), que assevera a qualidade artística do agrupamento musical nas primeiras décadas do século XIX; sob a direção artística de João de Freitas Mendonça, “festejado artista da localidade”, a Filarmónica Recreio União Faialense prestou em 1924 o seu serviço musical na Festa da Imaculada Conceição na Igreja Paroquial da Freguesia do Faial, e a esse propósito, no Natal seguinte, se anunciava na imprensa que os membros da “Banda Faialense” – à semelhança de demais filarmónicas regionais – visavam constituir uma orquestra, “para acompanhar os coros no interior dos templos”; dez anos volvidos, a meados de Agosto, a filarmónica do Faial visitou o Porto Santo, tendo ali realizado vários concertos públicos no período de veraneio; no ano imediato, participou, com as filarmónicas de Machico e Santa Cruz, nas manifestações particulares de regozijo por inauguração do ramal de estradas da Vila de Machico à Portela e tomou parte ainda nos festejos em honra dos marinheiros portugueses, prestando a animação ao arraial popular realizado a 24 de Junho no mercado. De 1935 subsiste ainda um registo fotográfico da União Faialense no Pico Ruivo, em deslocação a pé para a festividade para o Curral das Freiras. Por fim, refira-se que a coletividade tomava presença em outras efemérides locais pelo regresso de renomeados emigrantes, tais como os festejos de acolhimento a J. F. da Silva, em 14 de março de 1948.
Em 1958 relatava o articulista da Voz da Madeira: Constituída por um efetivo de 20 executantes e 15 aprendizes, (…) [a] banda [Filarmónica Recreio União Faialense] não recebe qualquer subsídio oficial e vive exclusivamente do esforço pessoal dos amadores e dos executantes e da generosidade da população Faialense a quem recorre quando periclita a sua manutenção e existência. Tanto os executantes como os aprendizes empregam-se exclusivamente nos trabalhos agrícolas. É de justiça destacar a dedicação dos Srs. José Gonçalves Valente, presidente da Assembleia geral, José Silva Presidente da Direção, Avelino Gomes, secretário, Álvaro Mendonça, tesoureiro, Joaquim Candelária, Manuel Filipe, etc.. (…) no Porto da Cruz, conta também com numerosos amigos entre os quais os Srs. Dr. Simão de Sousa, António de Sousa Alcides de Oliveira, Gregório Rodrigues”. (…). Esta banda tem atravessado períodos prósperos e de decadência. Há poucos anos durante a regência do saudoso Sargento Música Oliveira Rocha, marcou esta instituição lugar de destaque entre as filarmónicas congéneres”.
Por aqueles anos, desde pelo menos 1957, assumia a direção artística da filarmónica faialense o Sargento Músico Ulisses Teixeira, que em 1965 seria substituído pelo Sargento Músico Raul Serrão – que se havia então distinguido como regente da Filarmónica União Calhetense (1958-1962) e da Banda Nova da Ribeira Brava (1862-1865). Em 1968, foi apontado maestro da coletividade o Sargento Músico Camacho.
Comemorou a Filarmónica Recreio União Faialense o seu 75º aniversário sob a presidência do pároco da freguesia, Padre Isidro Rodrigues, realizando, a 06 de dezembro de 1970, missa solene e almoço de confraternização, a que atenderam o Presidente da Câmara Municipal de Santana, Manuel Mateus Lourenço de Gouveia, os demais diretores, executantes e simpatizantes da coletividade.
De meados a finais da década de 1970, foi diretor artístico da filarmónica o [Cabo Músico] faialense Manuel José Esteves, que naquela associação havia iniciado a sua formação musical e que após 1981 se estabeleceu meritoriamente como professor de clarinete do Conservatório de Música da Madeira. Sucederam-lhe, à regência da filarmónica, o Sargento Tito, o Sargento Gonçalves e o professor faialense Agostinho.
A 21 de julho de 1987, António Carlos de Freitas Candelária, Rui Emanuel de Sousa de Abreu e José de Nóbrega, inscreveram a associação artística, com respetiva regulamentação estatutária e com nova denominação – Banda Filarmónica do Faial –, na Secretaria Notarial e Protesto de Letras do Funchal. A 18 de Outubro daquele ano, corpos diretivos, músicos e associados da filarmónica, e a seu convite, membros do Governo Regional, da Câmara Municipal de Santana e da Junta de Freguesia do Faial consagraram homenagem ao “incansável dirigente” Joaquim Freitas Candelária Júnior (1897-1989), tendo por essa ocasião sido instituído o prémio “Joaquim Candelária” para auxílio das bandas comunitárias regionais; Manuel José Esteves, anterior diretor artístico, dedicou uma obra ao distinto dirigente, que naquela homenagem lhe foi oferecida e que se executou no seguinte Encontro Regional de Bandas Filarmónicas.
Tomaram posse em 1988 os acima citados António Candelária, presidente da Direção, Rui Abreu, vice-presidente, José de Nóbrega, tesoureiro e Arnaldo Teixeira, presidente da mesa da Assembleia Geral. Sob a presidência de António Candelária, que perdurou até aos primeiros anos do novo século, tal organismo diretivo garantiu imprescindíveis apoios pecuniários do Governo Regional, por intermédio da Secretaria de Turismo e Cultura e da Direção Regional de Assuntos Culturais, da Câmara Municipal de Santana e da Casa do Povo para a prossecução da atividade da filarmónica faialense, tendo logrado ainda dotar a associação de novo instrumentário e de sede social própria, no edifício do antigo matadouro, ao Sítio da Pedreira. Por sua vez, José Carlos Teixeira, que em 1989, tomou a regência da filarmónica faialense e a orientação da sua Escola de Música, desenvolveu um notável trabalho artístico, fazendo crescer, em sete anos, o efetivo de doze a cerca de trinta instrumentistas, sublinhando-se, a esse propósito, a inscrição de várias mulheres (para a qual havia contribuído o incentivo do pároco do Faial, Padre Ramos).
Por ocasião do Centenário da Fundação, a Banda Filarmónica do Faial deslocou-se, em intercâmbio com a Sociedade Recreativa Filarmónica Lira de Nossa Senhora da Saúde – de Arrifes, à Ilha de São Miguel, Açores, para uma série de sete concertos, com o apoio das divisões do INATEL de ambas as Regiões Autónomas. Ainda no âmbito das comemorações da efeméride, foi cunhada Medalha comemorativa e foi gravado um registo fonográfico do Concerto do Centenário da Fundação. Duas novas digressões realizaram ainda a filarmónica faialense em 2001: a Lisboa, tendo abrilhantado a final da Taça de Portugal no Estádio do Jamor; e à Venezuela, onde atuou para a comunidade madeirense residente.
Do constante labor dos seus diretores artísticos e administrativos, dos seus associados e simpatizantes tem resultado um recente e auspicioso crescimento do efetivo da coletividade e a sua assinalável melhoria artística: em 2006 contava a filarmónica com vinte e cinco elementos e uma escola de música coordenada por dos monitores; volvidos doze anos, a Banda Filarmónica do Faial é constituída por quarenta executantes, com quinze aprendizes inscritos na escola de música. Sob a direção artística de João Correia desde 2017, a Banda Filarmónica do Faial participa com frequência em festividades religiosas em várias paróquias da Ilha; nas festas do Concelho do Porto da Cruz, e nas festas de Fim do Ano e Festa da Flor, no Funchal; e em concertos no Encontro de Bandas e em várias dos concelhos da Região Autónoma.
Rui Magno Pinto
Bibliografia
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Assento de baptismo de Óscar Dellanave, Paróquia da Sé, 1895.06.16, Livro 6417-A, ff. 26v-27.
Assento de baptismo de Maria Dellanave, Paróquia do Faial, 1895.01.26, Livro 8310, ff. 5v-6. [neste registo, por lapso, o primeiro nome do pai, Frederico, foi inscrito como Francisco].
Assento de casamento de José António Dellanave e de Augusta da Conceição, Paróquia de São Pedro, 1863, Livro 1401, ff. 17-18.
Assento de baptismo de Alfredo Dellanave, Paróquia de São Pedro, 1867.09.15, Livro 1371, f. 46.
Assento de baptismo de José Dellanave, Paróquia de São Pedro, 1868.11.15, Livro 1372, ff. 55v-56.
Assento de baptismo de Josefina Dellanave, Paróquia de São Pedro, 1871.01.13, Livro 1375, f. 7.
Assento de baptismo de Júlia Dellanave, Paróquia de São Pedro, 1879.06.06, Livro 1383, f. 40.
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Ana Ventura, “DELLANAVE, Frederico José”. In Dicionário Online de Músicos na Madeira. Funchal: Divisão de Investigação e Documentação, Gabinete Coordenador de Educação Artística, atualizado em 19/09/2012.
João E. D. Franco, Bandas Filarmónicas Portuguesas, 2011, Ancorensis, p. 790.