Historial – Banda Municipal da Ponta do Sol

Na segunda metade do ano de 1882, o entusiasmo pelo movimento filarmónico despontava também na Vila da Ponta do Sol. No número de 29 de Julho de 1882 de O Direito, Pedro Maria Gonçalves de Freitas dava conta dos esforços encetados para a organização de uma filarmónica – uma sociedade destinada à prática musical e à sociabilidade mundana – para o high-life pontassolense e de uma banda para os operários daquela povoação. O redactor, que prestava particular atenção à iniciativa, anunciava a 21 de Outubro que a filarmónica se havia constituído e a 8 de Novembro tornava a referir que Agostinho António Martins Júnior, a quem havia sido confiada a direcção artística da filarmónica, e outros amadores de música se esforçavam para organizar a respectiva banda. A 1 de Dezembro fundava-se formalmente a Filarmónica da Restauração: aclamados, os primeiros corpos gerentes eram presididos pelos reputados mecenas da Vila: Henrique Wilbraham, presidente; Guilherme Wilbraham, vice-presidente e tesoureiro; e Júlio Pereira, secretário.

Em Fevereiro de 1884, a filarmónica pontassolense, constituída por vinte e quatro instrumentistas, realizava já algumas apresentações públicas, sob a direcção de Agostinho Martins Júnior; em Junho, tocava no Passeio da Vila e em Julho tomava parte na festa do Sagrado Coração de Jesus, sendo elogiados os seus executantes e o seu maestro pela precoce apresentação de um variado e belo repertório. Em Outubro do mesmo ano, coube à filarmónica pontassolense celebrar, no cais da vila, a visita do Príncipe Nicolau Frederico Augusto d’Oldembourg. Pela recepção e pelo estado de deterioração (de alguns) dos instrumentos da colectividade, o aristocrata quis presenteá-los com novos instrumentos – um cornetim, um sax-trompa (alto), um barítono e um bombardino – adquiridos em Paris e gravados com a seguinte menção: Le Prince Nicolas d’Oldemburg à la Banda Pontassolense. Souvenir de leur aimable acoueil. Em reconhecimento da generosidade do aristocrata, a colectividade artística pontassolense tomou a designação Filarmónica Príncipe d’Oldemburg, que prevaleceu até ao dealbar da década de 1930; por aqueles anos, a filarmónica tomou então a designação Banda Municipal da Ponta do Sol, título que adoptou legalmente em 1944, aquando da elaboração e ratificação dos novos Estatutos.

Desde pelo menos 1888, a filarmónica Príncipe d’Oldemburg animava regularmente as festividades religiosas da Ponta de Sol e ainda aquelas da Lombada da mesma vila. O mérito artístico da Filarmónica da Ponta do Sol rendia-lhe o contrato para arraiais nas paróquias das vilas contíguas, mas ainda para outros concelhos da Região: em oitenta anos de actividade, a “música velha” da Ponta de Sol tocou nas festividades religiosas da Calheta, Madalena do Mar, Paul do Mar, Tabua, Canhas, bem como nos arraiais realizados na Boaventura, Campanário, Ponta Delgada, Quinta Grande e Ribeira Brava: em 1891, a Filarmónica Príncipe de Oldemburg tocou no vapor Falcão à ida para a Festa do Senhor dos Milagres em Machico e em 1898, 1909 e 1917 apresentou-se no monumental arraial do Santíssimo Sacramento em Câmara de Lobos, para o qual eram convidadas as mais notáveis bandas regionais. A Banda Municipal da Ponta do Sol prestou-se ainda a cooperar em outras iniciativas regionais e a assinalar outras celebrações cívicas, destacando-se o concerto realizado no Funchal, em 1935, no âmbito das Festas da Cidade, em 1935, e o desfile e concerto organizado na Ponta de Sol, em 1952, por ocasião das Comemorações do 28 de Maio. Para a qualidade artística dos filarmónicos pontassolenses contribuíra o labor de vários renomeados músicos regionais, vários dos quais militares: a Agostinho Martins Júnior terá sucedido Francisco José Luís de Andrade, que entre 1897 e 1909 serviu como regente da colectividade. Naquele período, e particularmente em 1902, a banda pontassolense foi ensaiada por Francisco Maria Nobre, músico de banda militar aposentado. De 1911 a 1913, José Feliciano da Cruz, músico militar de primeira classe reformado assumiu a direcção artística da Filarmónica Príncipe d’Oldemburg.  Artur Maria Lopes, que servira também na banda de Infantaria n.º 27, regeu a colectividade desde 1916, vindo a ser substituído por Júlio Cardoso, 1º sargento músico do mesmo regimento. Em 1929, a direcção artística da Banda Municipal da Ponta do Sol estava confiada a Eduardo Passos e em 1940 a Alberto Bernardo Pereira. Francisco Fernandes da Silva, regente da Banda Municipal de Câmara de Lobos, tomou a regência da filarmónica pontassolense em 1947, servindo como maestro da instituição por cerca de dezassete anos. Outros regentes e músicos da colectividade ocuparam a direcção artística da filarmónica pontassolense: Manuel Vieira, sargento Castro (1936-?); Óscar Félix; furriel Camacho de Freitas; João Joaquim Faria; António José (1960s); Pita.

Os efeitos adversos da emigração, a carestia financeira e a falta de executantes, que há anos perduravam, resultaram na extinção da Banda Municipal da Ponta do Sol entre 1964 e 1966. Cerca de vinte anos depois, alguns músicos e entusiastas locais, sob a direcção do músico militar José Humberto Vieira dos Vais, lograram constituir uma nova filarmónica na vila da Ponta de Sol. A nova colectividade realizou a sua primeira apresentação pública a 12 de Agosto de 1984, porém sob a batuta do músico militar Leonel Cipriano Vieira. Por ocasião do décimo-segundo aniversário, os órgãos directivos da nova colectividade entenderam comemorar o centésimo-décimo-quarto aniversário: nessa medida, os directores irmanavam os dois agrupamentos filarmónicos constituídos naquela Vila, entendendo relevar, mais do que os esforços dos seus conterrâneos para a fundação de uma nova colectividade artística, a revitalização da antiga Banda Municipal da Ponta do Sol. Poucos anos antes, em 1993, a Banda Municipal da Ponta de Sol havia coroado o seu trabalho artístico com uma digressão a Curaçau, Aruba e Venezuela, onde foi calorosamente acolhida pela comunidade emigrante e felicitada pelas autoridades locais.

Em 2000, Leonel Cipriano Vieira confiou a direcção artística da Banda e a formação de aprendizes a Duarte Costa Inácio, que as desempenhou até Abril de 2007, substituindo-o nessas responsabilidades artísticas Élio Cristiano Gomes Jardim. A par da sua assinalável participação em festividades religiosas, eventos cívicos, iniciativas beneméritas e concertos, a Banda Municipal da Ponta do Sol organiza, desde 2001, bianualmente, o Festival de Música Filarmónica da Ponta de Sol, por ocasião das Festas do Concelho, acolhendo duas bandas convidadas, uma filarmónica regional e uma filarmónica nacional. Em resultado, a Banda Municipal da Ponta de Sol tem realizado com regularidade, nas últimas duas décadas, vários intercâmbios: em 2002, deslocou-se a Abrantes; em 2004 a Taveiro (Coimbra); em 2006 às ilhas de S. Miguel e Terceira (Açores); em 2010 a Montemor-o-Novo; em 2012 a Pragança e em 2014, a A-da-Gorda (Óbidos), representando a Ponta de Sol e a Região Autónoma da Madeira em vários eventos filarmónicos nacionais.

Rui Magno Pinto

Bibliografia

Manuel Pedro Freitas, “Grupos musicais madeirenses entre 1850 e 1974”, in: A Madeira e a Música. Estudos (c. 1508 – c. 1974), ed. Manuel Morais, Funchal 2008.
Marco António Ferreira Gonçalves, “As bandas filarmónicas na Madeira, 2ª metade séc. XIX/princípios séc. XX”, in: Xarabanda Revista 17, 2008.
Manuel Pedro Freitas, “Concelho da Ponta de Sol”, Revista Girão, Vol. II nº6, 2º Semestre, 2011.
João E. D. Franco, Bandas Filarmónicas Portuguesas, Ancorensis, 2011.

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