Historial – Banda Municipal da Ribeira Brava

No dealbar do último quartel do século XIX, organizava-se na Ribeira Brava uma filarmónica. Em 1875, os músicos da colectividade ribeirabravense, munidos de novos e bons instrumentos, haviam realizado já algumas apresentações, e recentemente haviam tocado na Vila da Ponta do Sol, sob a direcção de um músico de nome Coimbra. A 28 de Junho 1877, o Reverendo Francisco Manuel de Sousa, vigário da freguesia da Ribeira Brava, que terá sido o mentor e incitador da constituição do agrupamento, firmava com os executantes a escritura formal de fundação: os sócios fundadores Francisco José Barreto, José Meneses Correia de Macedo, Luís Figueira, Manuel Nunes Júnior, Constantino de Abreu de Faria, João Augusto Bettencourt, Manuel Mendes Júnior; João Câncio de Nóbrega, António Correia, Francisco António Pereira, António de Abreu de Faria, e os aprendizes João dos Santos Teixeira, João Augusto de Abreu, Sebastião Barreto, António Pestana de  Castro,  Manuel António de Macedo, João José de Macedo, (…) Câmara constituíam o primeiro efectivo da Filarmónica União Fraternal Ribeirabravense. A direcção artística da colectividade fora atribuída ainda em 1876 a Bello, um músico militar aposentado da Banda do Regimento de Caçadores 12.

Pouco se sabe sobre a actividade da colectividade na seguinte década. Desde pelo menos 1888, a Filarmónica União Fraternal Ribeirabravense tocava regularmente nas festividades religiosas das várias paróquias da Ribeira Brava e daquelas nas freguesias mais próximas da Tabua, Serra d’Água, Campanário e Quinta Grande, vindo ainda a celebrar contratos para a animação dos arraiais do noroeste e sudoeste da  Ilha, apresentando-se em Ponta Delgada, Ribeira da Janela, Fajã da Ovelha, São Vicente e Madalena do Mar, Paul do Mar, Ponta do Sol, Lombo da Atouguia, Arco da Calheta, Prazeres e Canhas. A qualidade artística da filarmónica ribeirabravense terá sido aliás bastante reputada: nas quatro primeiras décadas de actividade, a União Ribeirabravense foi frequentemente convidada para reunir-se a várias outras notáveis bandas regionais nos arraiais do Santíssimo Sacramento de Câmara de Lobos e Estreito de Câmara de Lobos; surpreendentemente, a Filarmónica União Fraternal Ribeirabravense deslocou-se, desde o início a meados do século XX, a outras localidades distantes da Ilha, cumprindo o seu serviço artístico no Monte (1902), na Camacha (1920), no Curral das Freiras (1935), nas Neves-São Gonçalo (1935) e em São João da Ribeira (1952).
A filarmónica ribeirabravense prestou-se ainda a garantir o aparato simbólico de eventos cívicos e outras comemorações, tocando no Funchal, nos festejos da Implantação da República, em 1919; e em homenagem à Divisão Naval, em 1935; naquele mesmo ano, a filarmónica da Ribeira Brava acolheria na freguesia-mãe a Comissão Concelhia da União Nacional. Em 1955, a colectividade ribeirabravense tomou parte na recepção local ao Presidente da República, Marechal Craveiro Lopes.

A colectividade ribeirabravense oferecia ainda às comunidades locais vários concertos:  por deliberação camarária de 1 de Julho de 1933, a Filarmónica União Fraternal Ribeirabravense era elevada a Banda Municipal da Ribeira Brava, e devia honrar esse estatuto com regulares concertos públicos nos feriados municipais (de 2 de Abril e, posteriormente, de 29 de Junho), por ocasião das efemérides nacionais da Implantação da República (5 de Outubro) e Restauração da Independência (1 de Dezembro) e na véspera da celebração religiosa da Assunção de Nossa Senhora (14 de Agosto). Uma crónica da imprensa ilustra-nos o empenho do director artístico e dos executantes da colectividade em proporcionar às comunidades locais, por várias horas, algum recreio e instrução artística:

Notícias da Ilha – Aniversário da República. A Banda Municipal Ribeirabravense, no máximo da sua força, deu concerto público na Praça Dr. Manuel de Arriaga, das 17 às 23 horas.

Diário de Notícias, 07.10.1963

Em virtude da inexistência de fontes sobre vários dos mais relevantes episódios administrativos e artísticos da actividade da Banda Municipal da Ribeira Brava, os órgãos gerentes tomaram a data da mais antiga menção à colectividade para o ano de fundação e deliberaram comemorar o aniversário por ocasião da efeméride da criação do concelho da Ribeira Brava: a 6 de Maio de 1989, directores, executantes e sócios celebraram o centenário da fundação da filarmónica ribeirabravense. Entre os recentes empreendimentos artísticos da Banda Municipal da Ribeira Brava, refiram-se os intercâmbios realizados em 1998, com a Filarmónica das Cortes, do distrito de Leiria; em 2001, a São Miguel; e a 2010, à Venezuela.

Tomaram a direcção artística da Filarmónica União Fraternal Ribeirabravense – Banda Municipal da Ribeira Brava os seguintes regentes: Coimbra (1875-1876); Bello (1876); José Feliciano Cruz (1904-c.1909); Manuel Martiniano Rodrigues; João Joaquim Faria (1921-1933); Manuel Vieira (c. 1933-1938); Manuel Olímpio da Silva (c. 1938-1961); Luís Velez Pina (1961-1963); Abílio Pinto Ribeiro (1963-70); Tito Abílio da Silva (1872-76); Manuel João Pereira Esteves (1976-1979); Virgílio Vieira Marques dos Ramos; José Nascimento Gomes da Silva; José António Nunes de Faria (1984-1989; 1990-1997); Manuel Alexandre Freitas (1989-1990) e Alberto Cláudio de Sousa Barros (1997-2013).  Maurício Andrade, clarinetista, que em 2010 encarregou-se da direcção da Escola de Música, assumiu em 2013 a regência da Banda Municipal da Ribeira Brava; Manuel Pereira de Sousa tem, nas últimas décadas, presidido aos corpos directivos da filarmónica. Presentemente constituída por 40 elementos e 16 aprendizes do concelho, a Banda Municipal da Ribeira Brava prossegue a sua actividade artística em festividades religiosas na Ilha e em eventos filarmónicos regionais, organizando pontualmente, por ocasião do aniversário e de outras comemorações locais, alguns concertos públicos, honrando a herança de um vigoroso movimento filarmónico local com centena e meia de anos.

Algumas notas sobre outras filarmónicas ribeirabravenses

Dissidências várias entre membros da mais antiga instituição artística resultaram na constituição de uma “música nova” na Ribeira Brava, tão cedo quanto 1904. O propósito de fundar uma outra filarmónica naquela vila animou os ribeirabravenses por várias décadas, quase até ao último quartel do século. Em 1904, a imprensa anunciava a constituição de uma nova filarmónica na Vila, sob a regência de Francisco António de Faria, e, anos mais tarde, em 1912, se fazia referência a organização de uma outra, intitulada Filarmónica União Musical Ribeirabravense, sob a direcção do mesmo regente, que se viria a extinguir, após anos de actividade em vários arraiais regionais, em inícios da década de 1950. Em 1917, membros de uma antiga filarmónica reorganizavam-se num outro agrupamento, sob a batuta de João António de Faria, que se terá estreado e constituído formalmente em 1919, com o título Nova Filarmónica Ribeirabravense. Em 1963, por iniciativa de António Abreu Carvalho, emigrante na Venezuela, fundou-se a Banda Recreio Musical Ribeirabravense (igualmente designada “Música nova”), na qual serviu como regente Francisco António de Faria. Como várias outras, a Filarmónica Recreio Musical Ribeirabravense extinguiu-se precocemente em inícios da década seguinte.

No que concerne ao movimento filarmónico na Ribeira Brava, um escorço publicado no número de A Voz da Madeira de 10 de Agosto de 1975, identificado por Manuel Pedro Freitas, deve forçosamente ser tido em conta. Nessa resenha histórica, o autor data a fundação da Banda Municipal da Ribeira Brava a 29 de Julho de 1916. Ora, se o decreto camarário nos esclarece que foi a Filarmónica União Fraternal Ribeirabravense e não outra qualquer colectividade activa naquele período a merecer a elevação a Banda Municipal da Ribeira Brava, as notas do autor sugerem-nos que a Fraternal Ribeirabravense se terá reorganizado nessa data, e que para isso terá contribuído o abandono de vários músicos, que mais tarde se agremiariam na Nova Filarmónica Ribeirabravense.

Rui Magno Pinto

Bibliografia

Manuel Pedro Freitas, Notas [Musicais Soltas], Contributo para a história da música da Madeira, Revista Girão.
João E. D. Franco, Bandas Filarmónicas Portuguesas, Ancorensis, 2011, p. 785.
Manuel Pedro Freitas, “Grupos musicais madeirenses entre 1850 e 1974”, in: A Madeira e a Música. Estudos (c. 1508 – c. 1974), ed. Manuel Morais, Funchal 2008.
Marco António Ferreira Gonçalves, “As bandas filarmónicas na Madeira, 2ª metade séc. XIX/princípios séc. XX”, in: Xarabanda Revista 17, 2008.

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