Historial – Banda Municipal de Machico

Por iniciativa de Jaime Rodrigues Gouveia, João da Costa Miranda, Benjamim da Costa Miranda, Augusto Marcos da Câmara e Ângelo Álvares de Freitas, fundou-se a 1 de Novembro de 1896 a Banda Filarmónica de Machico. Obtidos os necessários instrumentos em Abril do seguinte ano, iniciou a nova colectividade a sua actividade musical sob a direcção artística de Ângelo Álvares de Freitas, vindo a realizar a sua primeira exibição pública a 28 de Setembro de 1897, em comemoração do aniversário do Rei D. Carlos I. Por Decreto de 20 de Outubro de 1898, comunicado pelo Governador Civil ao regente António Feliciano da Cruz em ofício de 8 de Novembro seguinte, recebeu a colectividade a Real permissão para usar da denominação Filarmónica D. Carlos I, tendo participado, como banda de honra, no terceiro dia de celebrações pela visita de Sua Majestade e da Rainha D. Amélia à Madeira, a 25 de Junho de 1901. Por então, a filarmónica de Machico, e a subsidiária orquestra de igreja organizado por António Feliciano da Cruz em 1899, tomavam já parte nas festividades religiosas de Machico; a filarmónica havia-se já apresentado no Funchal, a 15 de Julho de 1899, recebendo do auditório e da crítica os maiores encómios pelo seu notável labor artístico em ano e meio de actividade.

No decurso do seguinte século, a Filarmónica D. Carlos I – que após a República tomou a designação Filarmónica de Machico e, após o reconhecimento da edilidade, o título de Banda Municipal de Machico – serviu em festividades religiosas de Machico e das vilas e freguesias limítrofes de Água de Pena, Gaula, Santo da Serra, Ribeira Seca, Porto da Cruz, Caniçal, Santa Cruz, Caniço e Faial. Pela sua qualidade artística, a Filarmónica de Machico foi ainda, por várias décadas, convidada a animar as comunidades madeirenses em festividades religiosas noutras freguesias da ilha: em 1909 e 1912, foi uma das sete/oito bandas presentes na festa do Santíssimo Sacramento em Câmara de Lobos; em 1921 e 1922, participou em festividades religiosas do Curral das Freiras; em 1934, viajou até Porto Santo, tocando a bordo, e realizou, com a Filarmónica União Faialense, alguns concertos públicos na Vila; ainda em 1962, tomou parte na festividade religiosa da Quinta Grande, com outras três bandas regionais. A Filarmónica de Machico ofereceu ainda o seu préstimo artístico em cerimónias cívicas e outras manifestações culturais locais, destacando-se, no primeiro quartel do século, o “apreciado” serviço artístico prestado pela colectividade na festa a favor da Cruzada das Mulheres Portugueses realizada em 1917; e ainda a presumível participação da instituição na celebração pelo sucesso da travessia aérea de Sacadura Cabral e Gago Coutinho, organizada nos Reis Magos em 1922, por ocasião da Festa de São Pedro (Caniço).

A Banda Municipal de Machico contribuiu igualmente de modo profícuo para a formação das audiências locais na mais erudita música instrumental: regida então pelo seu mais notável director artístico, José da Costa Miranda, filho de um dos fundadores e discípulo de Gustavo Coelho, a filarmónica obteve, em 1933, o patrocínio da comissão administrativa do Concelho para a realização regular de concertos de Verão aos finais de tarde de Domingos e Quintas-feiras, na praça da Vila. Em 1935, a filarmónica de Machico tomou também parte nas Festas da Cidade do Funchal, prestando-se à realização de uma marcha luminosa a 29 de Dezembro, e de um concerto, no último dia do ano. Volvidas três décadas, a Câmara Municipal de Machico atribuiu novo subsídio à filarmónica para a organização de concertos públicos, em Agosto e Setembro de 1963, para os veraneantes em Machico e Porto da Cruz. Por fim, em 1998, sob a direcção artística de Amaro Nunes dos Santos, a Banda Municipal de Machico encetou, em parceria com a edilidade, a iniciativa “Concertos da Nova Geração”, visando, através de cinco actuações nas freguesias do concelho, sensibilizar as comunidades juvenis para a aprendizagem e prática musicais.

O notável préstimo artístico da Banda Filarmónica de Machico foi repetidamente apreciado pelas suas audiências e notado por redactores da imprensa periódica regional: em 1942, o articulista de O Jornal reiterava que a Banda Municipal de Machico era “uma das filarmónicas que melhor reputação [gozava] no meio musical madeirense”; em 1976, o redactor do Diário de Notícias destacava “a excelente actividade” [da instituição] “ao serviço da cultura popular”; o articulista do Funchal Notícias sublinhava, aquando da efeméride dos 120 anos da colectividade, celebrados a 1 de Novembro de 2016, que “centenas de jovens [haviam envergado] a farda [da] instituição artística mais antiga de Machico, construindo, ano após ano, o seu rico e vasto percurso”, contribuindo com especial empenho para o “[condigno] lugar ocupado pela instituição no panorama musical de Machico e da Região”. Testemunhos da mesma ordem honraram, por mais de um século, o contínuo empenho dos instrumentistas da Banda Municipal de Machico e o consecutivo labor dos directores artísticos Ângelo Álvares de Freitas, José Feliciano da Cruz (1899-c.1917), Francisco de Assis Moreira (c. 1917-c. 1925), Manuel dos Passos Faria (1917); Sarg. Mus. Mariano Brito Carapeto (1925-1929); José da Costa Miranda (1929-1959 e 1978-1984); Sargento Rocha (?-?); António Olim (c. 1962-1977), Filipe Alves Gouveia, Amaro Nunes dos Santos (198- – 2005), Nelson Spínola Sousa (2005-2016), Nuno Santos (2016- ) e Joaquim Mendes (*2018).

Pouco meses após o derradeiro concerto sob a direcção de José da Costa Miranda, no inaugural Encontro Regional de Bandas (1984), a sede da colectividade foi, a 21 de Junho de 1985, destruída por um incêndio, e embora se tivesse recuperado o seu repertório e a documentação administrativa, perdeu-se o instrumentário em tão fatídico incidente. A 30 de Setembro de 1985, o Conselho do Governo Regional resolveu atribuir dois mil contos à Banda Municipal de Machico (cf. resolução n.º 1136/85), que lhes garantiu a aquisição de cerca de trinta instrumentos musicais e, por fim, a ambicionada retoma da sua actividade,. Usufruiu a filarmónica e a sua respectiva escola de música de sede provisória ao Largo da Praça, vindo em 2004 a ser dotada de sede definitiva, em novo equipamento construído ao abrigo do programa do Governo Regional, ao Sítio da Graça, auspiciosamente denominado Casa da Música, e onde se estabeleceu o Grupo Folclórico de Machico, o Grupo Coral de Machico e ainda a delegação local do Conservatório – Escola Profissional das Artes da Madeira, Engenheiro Luiz Peter Clode, igualmente frequentada por vários dos instrumentistas da Banda Municipal de Machico.
A 14 de Agosto de 2013, a centenária instituição artística de Machico foi reconhecida com o Estatuto de Utilidade Pública, atribuído pelo Governo Regional da Madeira, pelo labor em prol da cultura na região (JORAM, I Série, n.º 110, p.2). Contava a instituição naquele período com cinquenta e um músicos e trinta e dois aprendizes.
Da corrente assinalável actividade artística da Banda Municipal de Machico, prosseguida em festividades religiosas, cerimónias cívicas e concertos temáticos e beneméritos, destaca-se o contributo artístico para as comemorações dos 500 anos da Cidade do Funchal (2007) e para a efeméride dos 100 anos da Proclamação da República (2010) e a coordenação das comemorações dos 250 anos da freguesia de São Jorge – Concelho de Santana, e a actuação realizada a esse propósito para o programa Atlântida, transmitido na RTP Internacional, em Setembro de 2011; bem como a regular participação nas consecutivas edições da Semana Gastronómica de Machico; as actuações realizadas em Porto Santo em Agosto de 1997; a exibição no espectáculo Raízes do Atlântico, a convite da Associação Cultural Xarabanda (2010) e, particularmente, os dois concertos em parceria com o coro da Associação Flores de Maio, em benefício da Liga Portuguesa contra o Cancro (2011) e a organização do Cantar dos Reis, em colaboração com a Câmara Municipal, Junta de Freguesia e Casa do Povo de Machico.

Além das várias parcerias encetadas com as bandas comunitárias regionais, em particular o convívio filarmónico celebrado em Câmara de Lobos em Setembro de 2002, merecem ainda especial menção os consecutivos intercâmbios com instituições musicais nacionais e as deslocações da centenária instituição artística de Machico ao estrangeiro: ainda aquando da revitalização da colectividade, em Agosto de 1989, a filarmónica deslocou-se a Lanzarote, no âmbito do intercâmbio entre os municípios de Machico e Arrecife; em Setembro de 1996, realizou nova viagem a Povoação, São Miguel; em Setembro de 1998 e novamente em Setembro de 2003, exibiu-se em Meia-Via, Torres Novas, acolhendo, em 1999 a Filarmónica Meiaviense; em parceria com a Banda Recreio dos Artistas, apresentou-se em Setembro de 2000 e em Agosto de 2002 em Angra do Heroísmo; ainda em 2002, a Banda Municipal de Machico acolheu a Banda Juvenil de Gavião, deslocando-se a Portalegre em 2003; naquele último ano, recebeu a Banda de Ança, que a acolheu em 2004; em 2005, a colectividade tomou parte nas cerimónias da geminação dos municípios de Machico e Lajes do Pico, oferecendo o seu préstimo nas festividades da Semana do Baleeiro; em Agosto de 2006, rumaram a Leiria, tendo sido recebidos pela Filarmónica de Monte de Redondo e, finalmente, em intercâmbio com a Banda Sinfónica da Amizade, realizou igualmente vários concertos em 2010 em Aveiro. A convite da Secretaria Regional do Turismo e Transportes, a Banda Municipal de Machico representou a Região na Bolsa de Turismo de Lisboa (Parque das Nações) em Janeiro de 2008, sendo honrada, pela sua prestação artística, com um louvor do referido organismo governamental.

Por iniciativa dos seus directores, instrumentistas e associados, a centenária instituição artística tem ainda encetado diversas actividades em música, dança e desporto, tendo constituído uma Orquestra Ligeira e uma Banda Juvenil, uma Tuna de Tocares e Cantares, uma Troupe de Carnaval com cerca de 100 elementos, uma Marcha dos Santos Populares, companhias de Teatro Sénior e Juvenil, um agrupamento de Dança e outro de Pop/Jazz, denominado Rag’s; este último colectivo participou no Festival Nacional de Dança, realizado em Agosto de 2007 no Caniçal e ainda no Concurso Nacional de Dança, em cooperação com a Associação Prestige Dance de Santarém. Por parceria com o Grupo Coral de Machico, a Banda Municipal de Machico tem participado em diversos Encontros de Coros: curiosamente, por via de tão profícua cooperação, a Banda Municipal de Machico reabilitou a sua “orquestra de igreja”, retomando, passado um século, uma das suas iniciais actividades artísticas, a execução de música religiosa e profana.

Quarenta e cinco executantes constituem o actual efectivo da Banda Municipal de Machico sob a direcção artística de Joaquim Mendes, que toma também a coordenação da escola de formação, frequentada por vinte e dois aprendizes. Participam ainda na Tuna de Tocares e Cantares, na Troupe carnavalesca e na Marcha dos Santos Populares cerca de duzentos e cinquenta habitantes das freguesias do Concelho, associados e simpatizantes da Banda Municipal de Machico.

Bibliografia
Site da Câmara Municipal de Machico
Funchal Notícias, 25.10.2016 (acedido online)
Luís Rocha, “Pedro Ramos amanhã em almoço comemorativo dos 122 anos da Banda Municipal de Machico”, Funchal Notícias, 31.10.2018.
Ricardo Faria, “Parabéns à Banda Municipal de Machico”, Diário de Notícias, suplemento Diário das Freguesias, 14.11.2018

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