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No dealbar do último quartel do século, o entusiasmo pelo crescente movimento filarmónico regional ecoava em Santa Cruz. Em 1874, constituía-se a Filarmónica União Santacruzense, cuja regência se confiou então ao maestro da Filarmónica Artístico Madeirense, César José Coelho. Anos mais tarde, entre finais de 1881 e meados de 1882, uma outra colectividade organizava-se em Santa Cruz, por iniciativa de João Manuel Álvares (de Freitas) Júnior, a Filarmónica Fraternal Recreativa. Em 1886, quando João Manuel Álvares Júnior cumpria mandato como Presidente da Câmara Municipal local, Ângelo Álvares de Freitas, o mais novo de seus irmãos, procedia em Janeiro à elaboração dos estatutos de uma colectividade, com a homónima denominação “Sociedade Fraternal e Recreativa de Santa Cruz”. Após 1887 (ano definido pela instituição como data de fundação), a Filarmónica União Fraternal apresentava-se em festas religiosas sob a direcção de outro membro da família, Arsénio Álvares de Freitas, escrivão do Juízo de Direito da Comarca de Santa Cruz. Em 1889, a filarmónica procurava ainda garantir aos seus conterrâneos algum recreio e instrução musical, organizando – como se fazia nas várias cidades do Reino – concertos regulares no Passeio Público (junto à Igreja) – na estação calmosa, de Maio a Setembro. Antes de Maio de 1893, Ângelo Álvares de Freitas substituiria seu irmão na regência da filarmónica santacruzense. Em 1895, a colectividade era já constituída por mais de duas dezenas de executantes: Manuel Gomes, António João Rodrigues, António Franco dos Ramos, João Regínio Cardoso, Jorge Henriques Cunha, José Inácio Gonçalves, Manuel Joaquim Alves, Manuel Rodrigues, Carlos Rodrigues, Constantino Augusto Vieira, Manuel Tiago da Costa, Adolfo Vicente da Costa, Francisco de Andrade, Júlio Rodrigues, Manuel de Sousa, Manuel Casimiro Vieira, José de Andrade, João Marques da Silva, Manuel Antonino, José da Vera Cruz, José Cunha, José Valentim Cardoso, Alexandre de Freitas e Severiano Gomes de Andrade.
Nas primeiras décadas de actividade, sob a direcção dos Álvares de Freitas, a colectividade animou as festividades realizadas nas várias paróquias de Santa Cruz, bem como aquelas das freguesias da zona este da Ilha, apresentando-se na Camacha (1891, 1903), Gaula (1891), Santo António da Serra (1893, 1896, 1897), Água de Pena (1895, 1896, [1897], 1903), Caniçal (1897), Mãe de Deus (Caniço) (1900, 1904) e Caniço (1904, 1913, 1918); a Filarmónica Fraternal e Recreativa terá evidenciado uma excelente qualidade artística pois foi, desde cedo, convidada para apresentar-se em várias localidades distantes da Ilha, particularmente nas grandes festividades do Santíssimo Sacramento em Câmara de Lobos (1893, 1898, 1901, 1915, 1916), nos arraiais de Santana (1891, 1895), Faial (1895, 1896) e Boaventura (1904), e nas festas religiosas das paróquias do Monte (1893, 1916), Santo António (1895, 1896, 1913), Vitória (São Martinho) (1895, 1915, 1917), Santa Maria Maior (1897), São João da Ribeira (1909, 1915, 1916).
Em 1906, dissensões de índole política dimanaram numa profunda cisão na Filarmónica Fraternal e Recreativa de Santa Cruz: alguns músicos, que se despediram da colectividade, organizavam-se, sobre a regência de António Franco Ramos Júnior, numa nova instituição artística, denominada Sociedade Capricho Santacruzense; os músicos, solidários com Ângelo Álvares de Freitas, permaneciam na mais antiga filarmónica. Nos seguintes catorze anos, as filarmónicas degladiavam-se para garantir os contratos para as festas religiosas: enquanto a Capricho Santacruzense, sob a direcção de António Franco Ramos, João Franco Júnior e Carlos Silva, obtinha convites para diversos arraiais, entre os quais o do Santíssimo Sacramento, em Câmara de Lobos; e aqueles das Neves – São Gonçalo, de São Roque, Pilar – São Martinho, Santo António e Santa Luzia (Funchal); do Caniço, Porto da Cruz, Santo da Serra, Gaula e Jardim do Mar; a Filarmónica Fraternal e Recreativa, por seu turno, mantinha vários dos seus serviços, garantindo ainda outros nas paróquias de São Roque, Neves, Boa Nova, Amparo e São Pedro (Funchal); do Arco da Calheta e Jardim do Mar. Porém, em 1920, Ângelo Álvares de Freitas escolhia dedicar-se à regência da Filarmónica de Machico, e a antiga filarmónica extinguir-se-ia no ano seguinte.
Ainda em 1921, o Dr. Joaquim Vasconcelos de Gouveia esforçou-se pela reabilitação da filarmónica local, e incumbiu Manuel de Freitas, que se havia aposentado do serviço militar, para reunir os antigos executantes de ambas as colectividades numa “música nova”, a Filarmónica União Santacruzense, que se fundou a 8 de Dezembro de 1922 (o dia da fundação celebrado correntemente pelos seus executantes, directores e associados). A Filarmónica União Santacruzense prosseguiu a sua actividade artística nas festividades de Santa Cruz, Camacha, Gaula, Água de Pena, Mãe de Deus, Caniço, e ainda nas do Porto da Cruz, Santo António e Bom Sucesso (Funchal) e Fajã de Ovelha e tomou parte nas comemorações cívicas ocorridas nas seguintes oito décadas, celebrando ainda regularmente, desde 1924, a Restauração da Independência. Entre 1926 e 1928, a colectividade adoptou o título de Banda Municipal de Santa Cruz. Por esses anos, em 1927, Manuel de Freitas abandonava a regência da instituição, que foi, até final da década, assumida por José Fernandes Nóbrega, João Ângelo Álvares e Ramiro Álvares de Freitas (filho de Ângelo de Freitas). Em 1929, a Banda Municipal de Santa Cruz, sob a regência de João Júlio da Costa Cardoso, alcançou o primeiro prémio no Concurso Regional de Bandas Civis, realizado no Funchal a 24 de Novembro daquele ano, e para o merecimento artístico da filarmónica terá contribuído a iniciativa de Costa Cardoso (ou de Ramiro Álvares de Freitas), que no Verão anterior havia organizado regulares concertos, ao Domingo, no Jardim Público da Vila. Em 1932, Costa Cardoso cedeu a regência a Álvares de Freitas; contudo, em consequência de desacordos com os titulares dos órgãos sociais, Ramiro Álvares de Freitas abandonou a instituição em meados da década seguinte e fundou a Música Nova de Santa Cruz, que se extinguiu no decurso da década de 1950. António de Freitas dirigiu a Banda Municipal de Santa Cruz por um período de vinte e dois anos: nesse período, a par das suas apresentações nas festas religiosas a colectividade prestou-se a assinalar várias comemorações cívicas, tais como as manifestações realizadas na Camacha na efeméride do 28 de Maio em 1952 e as cerimónias organizadas no município em celebração da visita do Presidente da República, Marechal Craveiro Lopes, à Região em 1955. Ramiro Álvares de Freitas regressou à colectividade em 1968, servindo como seu maestro até à sua morte, em 1974. A José Carmo de Freitas Cunha foi confiada a regência da colectividade entre 1977 a 2005 e coube-lhe o mérito da admissão de mulheres na colectividade desde 1982, o labor de preparar a colectividade para concertos, e em especial para os Encontros de Bandas, e a responsabilidade de celebrar o centenário da colectividade. Por ocasião da efeméride, os corpos gerentes da Banda Municipal de Santa Cruz celebraram a escritura pública de constituição da associação, a 18 de Janeiro de 1987. Onze anos volvidos, e em resultado dos esforços das direcções administrativa e artística, a filarmónica santacruzense foi dotada com uma adequada sede social, instalando-se, a 8 de Dezembro de 1999, num edifício construído de raiz para a sua actividade artística, no complexo da Quinta do Revoredo.
A auspiciosa admissão de mulheres na colectividade – poucos anos após da sua aceitação na outra banda do concelho, a Banda Paroquial de São Lourenço da Camacha – revelou-se proveitosa vinte anos depois, pois entre os mais habilitados executantes da colectividade figurava a professora de música Cristina Natália de Freitas, que se empenhou pelo progresso artístico da colectividade entre 2005 e 2011. Sob a sua batuta, a Banda Municipal de Santa Cruz realizou, em 2008, um intercâmbio com a Banda Municipal de Santana; em 2010, realizou dois concertos com a Estudantina Académica da Madeira, em Santa Cruz e no Casino da Madeira. A Banda efectuou, em 2011, o seu primeiro intercâmbio nacional, acolhendo em Santa Cruz a Banda Musical de Calvos, e representando a Região, em Póvoa de Lanhoso, distrito de Braga, sob a regência de Joel Neves Oliveira. João Armando dos Santos serviu como maestro da colectividade em 2014, sendo substituído, em Abril de 2015, por Marco Correia. Presentemente, assume as funções de director artístico e de coordenador da escola de música da colectividade, onde se encontram inscritos dezasseis aprendizes. Constituída por 35 executantes, a Banda Municipal de Santa Cruz apresenta-se regularmente nos arraiais locais, em cerimónias, e no Encontro de Bandas regional, e organiza regularmente concertos, iniciativas beneméritas, animações de Carnaval e Verão e a centenária Alvorada de 1 de Dezembro.
Rui Magno Pinto
Bibliografia
Manuel Pedro Freitas, Revista Girão, Vol. II, nº4, 1º semestre, 2007, p. 89.
Vítor Sardinha & Rui Camacho, Rostos e Traços das Bandas Filarmónicas Madeirenses, DRAC, 2001.
Manuel Pedro Freitas, “Grupos musicais madeirenses entre 1850 e 1974”, in: A Madeira e a Música. Estudos (c. 1508 – c. 1974), ed. Manuel Morais, Funchal 2008.