Historial – Banda Municipal Paulense

Por iniciativa de Arsénio Gonçalves de Sant’Ana, António de Andrade e Manuel Joaquim de Coito Júnior, fundou-se, a 4 de Setembro de 1874, a Sociedade Philarmonica Paulense, o mais antigo agrupamento artístico, presentemente activo, constituído no concelho da Calheta. Sob a direcção artística e administrativa de Arsénio Gonçalves de Sant’Ana, primeiro Regente e Presidente da Direcção, a colectividade local era, volvidos três anos, já  reconhecida pela sua organização e progresso artístico; em 1888, o profícuo regente e Presidente da Direcção constituía, seguramente, com parte daquele efectivo musical e com outros instrumentistas, uma orquestra para as celebrações religiosas; a filarmónica paulense – e presumivelmente a “orquestra de igreja” – actuaram com assinalável regularidade nas seguintes décadas nas festividades do Paul do Mar e das paróquias limítrofes da Fajã de Ovelha, Prazeres, Ponta de Pargo, Jardim do Mar, Loreto, Estreito da Calheta e Calheta. Em 1887, Silvino G. Santana, filho de Arsénio Gonçalves de Santana, terá assumido brevemente a direcção artística da colectividade, pouco antes de emigrar para o estrangeiro em 1889. Passados perto de trinta anos de trabalho em benefício da actividade artística das comunidades paulenses, o regente-fundador depositou a direcção artística da filarmónica nas mãos de seu filho Arsénio Gonçalves de Sant’Ana Júnior, que a dirigiu por cerca de quarenta anos.

Presença assídua nas festividades religiosas das paróquias do sudoeste e noroeste da Ilha da Madeira (Paul do Mar, Jardim do Mar, Prazeres, Fajã da Ovelha, Raposeira, Estreito da Calheta, Calheta, Loreto, Ponta do Pargo, Achadas da Cruz, Porto Moniz, Santa, Ribeira da Janela, Seixal, Lombo da Atouguia, São Vicente) no decurso da primeira metade do século XX,  a banda do Paul do Mar era então reconhecida pelo seu notável valor artístico, alcançado pelo profícuo labor do seu “hábil” regente, Arsénio Gonçalves de Santana Júnior e seus executantes; “Mestre Arseninho” dirigia ainda a “orquestra de igreja” constituída por seu pai. Naquele período, usou a colectividade artística paulense de várias denominações: em 1917 tomava a designação Philarmonica Recreio Paulense; entre 1922 e 1932 empregou o título Filarmónica de Nossa Senhora do Monte do Carmo Paulense, que em 1929 se abreviou para Filarmónica Monte do Carmo do Paul do Mar; em 1940, adoptou, por fim, a denominação corrente Banda Municipal Paulense, (que foi juridicamente ratificada apenas em 1991, aquando da constituição da associação). Ainda que com menor frequência, a filarmónica paulense foi também convidada para tocar em paróquias longínquas, de entre as quais se recordam ainda as duas deslocações ao Porto Santo, uma primeira, a 12 de Junho de 1946, e uma segunda, de 7 a 15 de Agosto de 1973, para as festividades em honra de Nossa Senhora da Piedade e de Nossa Senhora da Graça. Como sucedia com as demais bandas, a instituição paulense ofereceu o seu préstimo artístico em actos oficiais, merecendo especial menção as suas participações na solene inauguração da Levada Nova da Ribeira da Janela, em 26 de Julho de 1925, e, em 1956, na cerimónia de homenagem a António Caetano de Sousa Barbeito, em reconhecimento do contributo do chefe de Secretaria da Câmara Municipal da Calheta em prol da Banda Municipal Paulense e da população do Concelho.

Por morte de Arsénio Gonçalves de Santana Júnior em 1944, assumiu a direcção artística António Soares Coito (1906-1983), merceeiro, neto do fundador Manuel Joaquim de Coito e filho do músico Manuel Joaquim de Coito (Júnior). A início, como tantos outros conterrâneos, António Soares Coito procurou no estrangeiro melhores condições de vida, fazendo-se substituir por seu sobrinho, Manuel Coito de Andrade, que tomou apenas por breves meses a direcção artística da colectividade. Por quatro décadas, António Soares Coito prosseguiu com estro o labor artístico do seu antecessor, tendo ainda encontrado forças para incitar a fundação do Órfeão do Paul do Mar e por largos anos tomar a regência daquela instituição coral, cuja actividade floresceu com especial ímpeto desde meados da década de 1970.  Sob a direcção artística de Coito, a Banda Municipal Paulense prosseguiu a sua actividade artística na localidade e nas paróquias contíguas do Jardim do Mar (até 1962), Estreito da Calheta, Prazeres, Fajã da Ovelha, Raposeira, Ponta do Pargo, Achadas da Cruz, Porto Moniz, Santa, Ribeira da Janela, Seixal e Falca, tendo ainda actuado por diversas vezes na Ponta de Sol, Serra d’Água, Ribeira Brava, Quinta Grande, Câmara de Lobos e Funchal. Porém, os consecutivos fluxos migratórios da comunidade paulense para o Brasil, Estados Unidos da América, Venezuela, Curaçau, África do Sul, Austrália, –  e, mais recentemente, para o Panamá, Samoa e Inglaterra -, enfraqueceram por largos períodos o efectivo da colectividade: em 1974, aquando da celebração do centenário da fundação, a filarmónica contava apenas com catorze instrumentistas (dispondo, ainda assim, de vinte e cinco instrumentos). A centenária instituição assinalou com devido fausto a efeméride, estreando um novo Hino, composto por António Coito; pouco depois, em reconhecimento do seu labor artístico, a edilidade atribuiu à Banda Municipal Paulense um subsídio pecuniário e ofereceu novo fardamento aos seus executantes.

Pouco antes de morrer, António Soares Coito confiou a direcção artística da colectividade ao seu discípulo de clarinete Manuel Patrício Gonçalves Balelo (Teixeira) (*1928), que serviu como regente da Banda Municipal Paulense entre 1982 e 1993, e que a dirigiu no inicial Encontro Regional de Bandas, realizado em 1984.  Em Janeiro de 1983, João Pedro Gomes Fernandes tomou a direcção artística da filarmónica: foi deveras notável o incentivo que ofereceu à formação de instrumentistas da localidade; pondo termo em absoluto à contratação de “músicos de fora”, Fernandes soube constituir, paulatinamente, um hábil efectivo artístico, que se apresentou frequentemente nas festividades religiosas locais, em sucessivos concertos na Ribeira Brava e Funchal, nas regulares celebrações do Dia da Restauração (1 de Dezembro) e do primeiro dia do ano, e que assinalou a efeméride do Centenário da República, a 5 de Outubro de 2010, executando o Hino Nacional (A Portuguesa). Para esse desiderato, foram fundamentais a atribuição regular de um subsídio da Câmara Municipal da Calheta e ainda a ambicionada concessão de uma sede adequada para o funcionamento artístico da filarmónica e da sua escola de música.

No segundo quartel do século, o Dr. João Maurício Abreu dos Santos (1906-1969), médico, político e filantropo que se havia estabelecido no Paul do Mar em 1935 e que tomou por vários anos a direcção administrativa da colectividade, havia assegurado um espaço condigno à Banda Municipal Paulense para o exercício da sua actividade artística ao Sítio do Serrado da Cruz; o usufruto daquelas instalações pela Banda Municipal Paulense prosseguiu ainda após a morte do benfeitor, por vontade do seu filho, o benemérito Dr. João Maurício Baptista Abreu dos Santos (1947-2002), até 1983. Pelo avançado estado de degradação do imóvel, a filarmónica transferiu-se, por década e meia, para vários espaços provisórios e inadequados. Desde 11 de Setembro de 1999, a Banda Municipal Paulense dispôs de um salão situado no piso superior dos balneários do estádio de futebol daquela vila. Entre 2007 e 2015, a filarmónica usufruiu de parte do salão paroquial, sendo finalmente habilitada de uma condigna sede social, dispondo de três salas no edifício da Escola do 1º ciclo do Paul do Mar para o normal andamento dos seus ensaios e das suas actividades formativas.

Graças aos contributos pecuniários de sócios protectores, visitados na primeira oitava de Santa Amaro (a principal festa religiosa da freguesia), às receitas das suas prestações em festividades religiosas e a subsídios da edilidade e de outras instituições, que possibilitam a consignação de verbas a professores da Escola de Música, a aquisição de fardamentos e a compra e manutenção do instrumentário, a Banda Municipal Paulense, constituída por x executantes e x aprendizes, vem prosseguindo a sua actividade artística sob a regência de João Pedro Gomes Fernandes e sob a administração de um corpo directivo presidido por Celso Vinagre, garantindo, há quase um século e meio, o acesso à cultura musical às comunidades da remota vila do Paul do Mar.

Rui Magno Pinto

Bibliografia

Freitas, Manuel Pedro, Girão Vol. II nº 5, 2º Semestre/ 2009.
Franco, João Elias Domingues (2011); Bandas Filarmónicas Portuguesas, Vila Praia de Âncora: Ancorensis.
Sardinha, Vítor e Camacho, Rui (2001); Rostos e Traços das Bandas Filarmónicas Madeirenses, Funchal: Direção Regional dos Assuntos Culturais e Associação Musical e Cultural Xarabanda.
Página de Facebook da Banda Municipal Paulense, consultada a 25 de novembro de 2017. www.facebook.com/bandamunicipal.paulense/
Diário de Notícias, 24.07.1877; Diário de Notícias, 03.07.1913.Diário de Notícias, 29.07.1915; Diário de Notícias, 10.08.1917; Diário de Notícias, 15.08.1917; Diário de Notícias, 12.09.1917; Diário de Notícias, 04.10.1917.
Arquivo Histórico Madeira, “Registo de casamento de Manuel Bernardo Coito de Andrade e Ermelinda Correia dos Santos”, CRC Calheta, Livro 886, fls 34-34 verso.
Emanuel Silva, “Calheta homenageia domingo o médico natural do Paul do mar João Maurício dos Santos”, Funchal noticias, 07.04.2017, funchalnoticias.net.

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