Ângelo Álvares de Freitas

Ângelo Álvares de Freitas

(Santa Cruz, 14/12/1869) - (Santa Cruz, 07/11/1946)

Resumo:
[Santa Cruz, Madeira 14/12/1869 – Santa Cruz, Madeira 07/11/1946]
Fundador da Sociedade Fraternal e Recreativa de Santa Cruz, orquestrador, autor de apontamentos para o ensino da música, educador musical, regente de bandas filarmónicas e compositor. Ângelo Álvares de Freitas destacou-se na dinamização da vida musical de Santa Cruz e de toda a zona este da Madeira.

Biografia:
Ângelo Álvares de Freitas, nasceu em Santa Cruz no ano de 1869 e faleceu no mesmo concelho em 1946. Filho de João Manuel Álvares e de Maria Augusta de Freitas, Ângelo Álvares de Freitas era também irmão do músico João Manuel Álvares Júnior.
Iniciou os seus estudos quando ainda era uma criança e desde muito cedo que participou na regência de bandas.
Em 1886 fundou a sociedade de concertos Sociedade Fraternal e Recreativa de Santa Cruz, que de acordo com publicação da revista Girão foi a primeira que existiu na localidade de Santa Cruz, pelo menos como sociedade devidamente organizada, com estatutos próprios e contabilidade escrita, segundo documentação datada 21 de janeiro de 1886.
A sua atividade como regente de bandas filarmónicas ficou marcada pela passagem na Filarmónica União Fraternal Recreativa Santacruzense desde 1893 a 1921III, atual Banda Municipal de Santa Cruz.
Em 1895 Ângelo Álvares de Freitas adquiriu um prédio que existia no quarteirão formado pela Rua da Praça (antiga Rua do Coronel), Rua da Ponte Nova, Rua do Calhau (hoje Rua da Praia) e Rua do Ribeirinho, onde manteve a sede da Filarmónica União Fraternal Recreativa Santacruzense até à sua extinção, no final da década de 1920. A sede da filarmónica também funcionava como um arquivo musical, onde o maestro depositava documentos e partituras de músicas.
Para além da Filarmónica Santacruzense Ângelo Álvares de Freitas foi fundador da Filarmónica D. Carlos I, atual Banda Municipal de Machico a 1 de novembro de 1896, onde desempenhou funções como professor e maestro.
No entanto, o agrupamento musical pelo qual Ângelo de Freitas ficou reconhecido foi a Filarmónica União Fraternal Recreativa Santacruzense, devido à polémica com António Franco dos Ramos Júnior e Frederico Franco, seu irmão, ambos membros da banda.
Na época devido às fações republicanas que se instalavam no país, muitas instituições públicas sofreram infiltrações de apoiantes políticos republicanos, com o intuito de influenciar cada vez mais a sociedade. As bandas filarmónicas foram alguns dos alvos principais, inclusive a Santacruzense.
Devido a fatores políticos, os irmãos Franco “influenciados, em parte, pelos partidos políticos (…) começaram a tomar atitudes contra a disciplina reinante na coletividade musical de que faziam parte”.
Contudo a cisão definitiva entre António Franco dos Ramos Júnior e Ângelo Álvares de Freitas deu-se após uma atuação da Filarmónica União Fraternal Recreativa Santacruzense, por ocasião da toma-da de posse de Luís Pereira de Menezes e Agrela, do partido Regenerador, no cargo de administra-dor do concelho de Santa Cruz. Nesta efeméride António Franco dos Ramos Júnior recusou-se a tocar por motivos políticos. Esta atitude levou o regente a despedir os irmãos Franco e mais alguns executantes.
A 31 de outubro de 1904 o Diário de Notícias publicou que a Filarmónica União Santacruzense constituiu-se em dois grupos: “um regido por Ângelo Álvares de Freitas, ao que se supõe, mantendo a primitiva denominação Filarmónica União Fraternal Recreativa Santacruzense” e “outro por António Franco dos Ramos Júnior ao que se supõe denominado de Sociedade Capricho Santacruzense”, o que se deduziu por um esboço de estatutos para esta sociedade.
Nasciam desta forma “as bandas do Sr. Ângelo e do Sr. Franco” como eram popularmente conheci-das.
Em 1906, para além da regência de bandas filarmónicas Ângelo Álvares de Freitas encontrava-se nomeado secretário da Câmara Municipal de Santa Cruz. Uma época em que realizou muitos apontamentos para o ensino da música, como por exemplo Exercícios para afinação de rabecão e Exercícios para clarinete.
O músico manteve-se ligado ao ensino gratuito da música durante toda a sua vida e integrou a Escola de Canto Cantorum, como regente.
Mais tarde, Ramiro Ângelo Álvares, filho de Ângelo Álvares de Freitas ocupou o cargo de regente na Escola Cantorum, durante as décadas de 1940 e 1950.
Devido ao talento para a orquestração e composição o músico foi muitas vezes solicitado pelos seus amigos e colegas da área musical para realizar orquestrações especiais, como Grande Triunfo Político, produzido em 1902 e dedicado a Jayme Rodrigues de Gouveia. As suas composições eram muitas vezes dedicadas a amigos, a localidades simples ou a personalidades da vida pública.
Ângelo de Freitas componha as suas músicas através de flauta e deixou um repertório extenso e versátil que inclui a música sacra, a música de baile e obras vocais sacras e profanas. Quanto às obras vocais, a maioria com letra da sua autoria destinava-se quase na totalidade à história sacra, sobre a vida de Santo Amaro, Santo Antão e Virgem Maria. As músicas profanas destinavam-se à chegada e momento da partida de localidades como Saudação ao Seixal, Romagem a Ponta Delgada e a Despedida ao Caniço. Na vertente Sacra destaca-se também o Hymno Nacionalista, composto em 1909 e dedicado ao clero português. Uma composição que teve honras de impressão, em partitura editada.
No campo da música sacra instrumental compôs as seguintes obras: Melodia Sacra, Nossa Sr.ª de Lurdes, Soledade da Virgem e Eu Sou Cristão, as quais só podiam ser interpretadas nas capelas durante as festividades religiosas e mediante a autorização do bispo da diocese.
No domínio da música de baile, compôs várias músicas da dança para Filarmónicas, destinadas a animar os bailes, das quais salientam-se: Uma despedida; Jurei nunca mais amar, valsa com letra; e Eu Amo-te, valsa com letra.
Um outro género musical desenvolvido foi o hino, dedicado a várias personalidades, sociedades, orquestras e ocasiões, destacando-se o Hino da Sociedade, o Hino Recreativo, o Hino da União e o Hino do Festeiro.
Ângelo Álvares de Freitas mantinha contactos em Lisboa e no estrangeiro, onde adquiria parte do seu reportório de atuação, engrandecendo o seu espólio musical.

Autoria:
Sousa, Teresa (2011). “Ângelo Álvares de Freitas”. Realizado no âmbito da Disciplina Ciências Musicais VI (3º Ano da Licenciatura em Educação Musical). Funchal: Instituto Superior de Ciências Educativas.

Atualização:
Ventura, Ana (2011). “FREITAS, Ângelo Álvares de”. In Dicionário Online de Músicos na Madeira. Funchal: Divisão de Investigação e Documentação, Gabinete Coordenador de Educação Artística, atualizado em 01/09/2011.

Música:
Uma despedida; Jurei nunca mais amar (Valsa com letra); Eu Amo-te (Valsa com letra); Hino da Sociedade; Hino Recreativo; Hino da União; Hino do Festeiro; Hymno Nacionalista; Saudação ao Seixal; Romagem a Ponta Delgada; Despedida ao Caniço; Melodia Sacra; Nossa Sr.ª de Lurdes; Soledade da Virgem; Eu Sou Cristão.

Bibliografia:
Banda Municipal de Machico (2011). Personalidades. Acedido em 28 de junho de 2011: http://bandammachico.com/index.php?pag=personalidades.
Diário de Notícias (1876 – ). “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: publicado em 26/05/1893, p. 2.
Diário de Notícias (1876 – ). “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: publicado em 15/08/1895, p. 2.
Esteireiro, P. (2008). “Ângelo Álvares de Freitas”. In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística, p. 31-33.
Freitas, M. P. (2007). “Notas [Musicais] Soltas – Contributo para a história da música na Madeira: Concelho de Santa Cruz”. Girão – Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos (1º Semestre de 2007, Vol. II, Nº4). Câmara de Lobos: Câmara Municipal, pp. 72-79.
Gabinete Coordenador de Educação Artística (2011). Ângelo Álvares de Freitas. Acedido em 28 de Junho de 2011: http://www.recursosonline.org/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=1022&tmpl=component&format=raw&Itemid=19.
Morais, M. (coord.) (2008). A Madeira e a Música – Estudos (c.1508-c.1974). Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 Anos”, pp. 463-464.

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