Elmano Gomes
(Funchal, *09/10/1934)
Resumo:
[Funchal, Madeira 09/10/1934 – *]
Músico, compositor, letrista e professor. Elmano Gomes foi fundador da Orquestra de Câmara da Madeira e da Banda dos Canudos. Músico intérprete no Septeto Passos de Freitas, compôs repertório para tunas e teatro de revista na Madeira.
Biografia:
Elmano Gomes nasceu a 9 de outubro de 1934, na freguesia do Monte e cresceu numa família associada ao meio musical e artístico. O avô, Francisco Gomes foi músico na Banda dos Guerrilhas (Banda Distrital do Funchal), dirigiu a Banda de São Jorge, tocou trompete e violino. Carlos Fernandes Gomes, pai de Elmano, tocava saxofone, clarinete, cordofones tradicionais madeirenses e bandolim. Carlos Fernandes Gomes também foi músico na Banda dos Artista (Banda Municipal do Funchal) e Banda dos Guerrilhas.
Quanto aos instrumentos musicais que fizeram parte da formação musical de Elmano Gomes, o músico sempre demonstrou versatilidade. Aos oito anos aprendeu bandolim com o pai e tocava por pauta.
Depois Carlos Fernandes Gomes, ciente das capacidades musicais do filho, encaminhou-o para o estudo de violino com o professor Lami Reis. Posteriormente, teve como professores João Augusto Nogueira e Jorge Madeira Carneiro.
Elmano Gomes frequentou o Liceu do Funchal na área de Ciências em 1945, a Academia de Música, Belas-Artes e Línguas da Madeira durante três anos e depois, durante seis anos, estudou no Conservatório Nacional.
Como a Orquestra da Academia madeirense precisava de interpretes de viola Elmano Gomes preparou-se para ocupar um lugar e teve aulas de viola de arco durante um mês, com José Luís Duarte, da Orquestra da Gulbenkian. Este professor quis levá-lo para a Alemanha com uma bolsa de estudos, mas por motivos familiares Elmano Gomes não aceitou.
O músico tocou ainda saxofone na Banda Distrital do Funchal, também conhecida como a Banda dos Guerrilhas, mas nunca atuou, porque não queria usar farda. A interpretação de saxofone era apenas recreativa, uma vez que o músico tocava apenas com os amigos no liceu.
Elmano Gomes também teve aulas de Harmonia com o capitão do exército e músico Gustavo Coelho, durante o período em que frequentou a Academia de Música Belas-Artes e Línguas. Segundo Elmano Gomes o capitão exigia muito dele e ficava sempre insatisfeito com os exercícios que fazia, pois achava que as suas capazes permitiam melhores execuções.
Quanto à sua vida pessoal, Elmano Gomes casou com Maria Inês Pereira Gomes, com quem teve dois filhos: Rómulo e Marco Gomes. Dos seus filhos nenhum dedicou carreira à música, apenas Rómulo aprendeu viola em casa.
Desde os 14 anos Elmano foi funcionário público na secretaria da Academia de Música, Belas-Artes e Línguas da Madeira, mais tarde com a fundação da Escola de Hotelaria, na Rua Conde Carvalhal, passou a chefe de serviços administrativos na secretaria. Porém, apesar da sua atividade profissional no governo regional, o seu destaque na sociedade madeirense do século XX firma-se como músico, compositor, letrista, professor, fundador e diretor artístico de alguns grupos musicais.
Enquanto compositor Elmano Gomes criou algum repertório para tunas de bandolins e para revistas apresentadas nos teatros madeirenses. Destacou-se também como poeta, sobretudo na composição de sonetos.
Entre os grupos a que pertenceu, Elmano Gomes foi sócio da Juventude Antoniana onde reativou a tuna da associação, compôs e teve a seu cargo a direção artística da tuna e do grupo coral. Também fundou a Orquestra de Câmara da Madeira, onde tocou como primeira viola, dirigido por Jorge Madeira Carneiro.
Elmano Gomes também tocou bandolim na Tuna da União e Fraternidade e posteriormente foi para a Banda Recreio Musical União da Mocidade, onde organizou uma tuna com cerca de dez elementos, ensinou solfejo e prática instrumental. O músico refere que esta tuna foi a primeira a tocar numa igreja: a Igreja de São Roque.
O músico dirigiu ainda o grupo de teatro da Juventude Antoniana após Vicente de Abreu e integrou o elenco da revista Um rosário de cantigas, com prosa de Teodoro Silva e música dos irmãos Freitas.
Para além desta revista, Elmano Gomes levou a cena, com outros artistas e com a Tuna da Juventude Antoniana três revistas, entre as quais a célebre, É Assim a Madeira.
Elmano Gomes integrou também a segunda geração do Septeto Passos Freitas, como intérprete de bandoleta, mas não compôs, nem fez arranjos no septeto. Por fim destacou-se como regente da Tuna do Centro Cultural de Santo António.
Ao longo do seu desempenho enquanto músico contribuiu para a formação de alunos que se destacaram na cultura madeirense das últimas décadas, como Eurico Martins a quem ensinou solfejo e guitarra e encaminhou para o conservatório.
Acerca da sua obra publicada o músico esteve inscrito na sociedade de autores, editou uma cassete com repertório seu e compôs a música para o Hino 19 de Março de 1957 tocado no aniversário da Juventude Antoniana.
Elmano Gomes também marcou a diferença na cultura musical da região como fundador e membro da Banda dos Canudos.
Esta banda surgiu cerca de 1944, criada nas redondezas do Sítio do Terraço, em Santo António, por um grupo de crianças e jovens com idades compreendidas entre os 8 e os 13 anos, entre os quais Elmano Gomes.
O músico refere que “a banda nasceu de uma brincadeira de miúdos, levada muito a sério, e que despertou muito interesse nos adultos”, em especial devido à sua caraterização musical, que se comparava às verdadeiras bandas filarmónicas, embora os seus instrumentos fossem bastante artesanais feitos de canavieira.
Elmano Gomes refere que, posteriormente, “Jorge Nazário, que tinha muita habilidade de mãos, começou por fazer os instrumentos em madeira, imitando trompetes, barítonos, trombones, saxofones, etc. Estes instrumentos eram depois forrados com papel de sacos de cimento e então adaptávamos o canudo de canavieira ou de cana de roca”.
O músico salienta ainda que “existiam diferentes naipes” e o grupo era constituído por dezoito elementos. As peças que interpretavam eram decoradas através do repertório das bandas, que tocavam nas novenas. A Banda dos Canudos tinha inclusive um local de ensaio na casa ou no quintal, de Elmano Gomes, onde existia um coreto. Este grupo chegou a conseguir angariar algum lucro, através da interpretação do Hino da Banda dos Canudos.
Sobre o estilo o seu próprio repertório e estilo musical, Elmano Gomes destaca que sempre teve como objetivo criar composições simples, que ficassem na memória das pessoas, como marchas e música para teatro de revista, em que retratou a sociedade madeirense do século XX.
Autoria:
Gomes, Catarina (2011). “Elmano Gomes”. Realizado no âmbito da Disciplina Ciências Musicais VI, integrada no plano curricular da Licenciatura em Educação Musical, do Instituto Superior de Ciências Educativas, Universidade da Madeira.
Atualização:
Ventura, Ana (2011). “GOMES, Elmano”. Dicionário Online de Músicos na Madeira. Funchal: Divisão de Investigação e Documentação, Gabinete Coordenador de Educação Artística, atualizado a 06/09/2011.
Música:
É Assim a Madeira; Hino 19 de Março de 1957, Juventude Antoniana; Hino, Banda dos Canudos.
Bibliografia:
Gomes, C (2011). “Entrevista realizada por Catarina Gomes a Elmano Gomes”. Realizada no âmbito da Disciplina Ciências Musicais VI, integrada no plano curricular da Licenciatura em Educação Musical, do Instituto Superior de Ciências Educativas, Universidade da Madeira.
Sardinha, V. & Camacho, R. (2001). Rostos e Traços das Bandas Filarmónicas Madeirenses. Funchal: Associação Musical e Cultural Xarabanda, p. 22-24.