Gustavo Augusto Coelho

Gustavo Augusto Coelho

(Alcácer do Sal, 1890) - (Funchal, 21/12/1965)

Resumo:
[Alcácer do Sal, Portugal 1890 – Benfica, Portugal 21/12/1965]
O capitão Gustavo Augusto Coelho foi um importante pedagogo musical, na Madeira, durante o século XX. Conceituado regente de bandas filarmónicas, orquestras e grupos corais, assim como um prolífico compositor e transcritor de música. Gustavo Coelho foi também Chefe da Banda de Música do Comando Militar da Madeira e integrou o corpo docente da Academia de Música, Belas-Artes e Línguas da Madeira.

Biografia:
Gustavo Augusto Coelho nasceu a 16 de novembro de 1890 na freguesia de Santiago, concelho de Alcácer do Sal era filho de Manuel Coelho e Adelaide Costa e irmão mais velho de Rui Coelho (1892-1982), o compositor diretamente associado ao regime político do Estado Novo. A 29 de Abril de 1912 casou com Aurora Tavares da Fonseca, com quem criou Sílvia, Lucília, Dulce, Maria Adelaide e Henrique.
Em 1906, com apenas 15 anos, o músico ingressou como voluntário no Regimento de Infantaria Nº2, com formação no ensino básico e alguns conhecimentos musicais, decorrentes da prática de cornetim. A partir desta decisão escolheu seguir a carreira musical associado ao Exército. Gustavo Coelho terminou a sua instrução em novembro de 1907 e em março de 1909 foi nomeado músico de 3ª classe, vinculado ao Regimento de Infantaria Nº24, mas em pouco tempo passou a músico de 2ª classe, pela ocupação da vaga de cornetim e foi transferido para o Batalhão de Caçadores 4.
Apesar da carreira militar, que iniciava de forma sólida e bastante ativa, Gustavo Coelho procurou complementar a sua formação musical no conservatório. Assim, em novembro de 1909 obteve licença militar para a frequência do Conservatório Nacional, onde completou o terceiro ano do Curso de Harmonia, com 15 valores, em julho de 1911.
Após o término do período académico Gustavo Coelho continuou a integrar o exército e a trabalhar numa carreira progressiva. Em 1912 foi aprovado como músico de 1ª classe, em barítono e concorreu aos exames para Chefe de Música de Regimento de Infantaria, um cargo que alcançou em 1915 quando foi promovido a Chefe de Música de 3ª classe.
No entanto, a carreira de Gustavo Coelho sofreu uma alteração de percurso quando foi destacado para o Regimentos de Infantaria Nº 25, em Angra do Heroísmo devido a uma censura disciplinar que recebeu por uma falta de repreensão ao sargento-ajudante, que havia ofendido um subordinado.
O período e que esteve colocado nos Açores coincidiu com o final da I Guerra Mundial em 1918, nesse âmbito serviu a defesa marítima de Ponta Delgada, no Regimento Nº 26, entre 11 de agosto e 10 de novembro. Uma atividade consequente da instalação da base naval norte-americana US Navy em Ponta Delgada, após os bombardeamentos nas cidades da Horta e Ponta Delgada, em 1916 e 1917 pelo Império Alemão.
Na sequência da colocação nos Açores, ainda em 1918 Gustavo Coelho foi destacado para o Regimento de Infantaria Nº 27, no Funchal.
Durante a sua colocação no Funchal tentou diversas vezes a transferência para diferentes Regimentos de Infantaria no continente e mesmo nos Açores. Para alcançar esse objetivo efetuou uma candidatura ao corpo de marinheiros, mas todos os seus pedidos foram indeferidos pelos superiores.
Apesar de pretender uma recolocação Gustavo Coelho acabou por se sediar no Funchal e prosseguiu a sua carreira militar com a ascensão a Tenente em 1920 e Capitão em 1930.
O Regimento de Infantaria do Funchal foi extinto em 1931 e com esta alteração Gustavo Coelho foi nomeado para regressar aos Açores, como chefe de banda de música.
Contudo, a sua família estava estabelecida na Madeira e com a viabilidade de regressar aos Açores, Gustavo Coelho tentou a sua colocação como arquivista na Madeira. Esta colocação também aspirava uma reorganização da Banda de Música do Comando Militar da Madeira, mesmo após a dissolução do Regimento de Infantaria.
Os seus planos profissionais foram mais uma vez negados e viu-se forçado a voltar aos Açores. Apesar desta colocação Gustavo Coelho conseguiu regressar à Madeira devido à concessão de várias licenças militares.
Durante a carreira militar Gustavo Coelho desempenhou cargos ligados à música regional civil, sobretudo de carácter popular.
Na esfera da composição musical a primeira referência sobre a sua participação na música regional é a composição do Hino do Colégio Lisbonense, com letra de Eugénia Rêgo Pereira, apresentado pelo orfeão escolar na récita em 1923.
Encontram-se também referências de 1925 como maestro da Filarmónica Artístico Funchalense, atual Banda Municipal do Funchal.
No período em que a filarmónica esteve sob a sua direção artística foram interpretadas obras musicais de extrema dificuldade, o que comprovou a mestria e talento de Gustavo Coelho, com uma intelectualidade musical acima do comum, referências publicadas pelo Diário de Notícias em 1919 e 1925.
Entre as obras de reconhecido valor interpretadas pela Artístico Funchalense constam: a Marcha Húngara; o Capricho Oriental; as aberturas de Rienzi e Rigoletto; o Inferno; a Rapsódia d’Águeda; 1812; La France; e Festa di Nozzi. Um repertório que seria seguramente interpretado por bandas militares, mas não por uma filarmónica comum com repertório habitualmente popular. Destaca-se ainda uma digressão desta filarmónica aos Açores, em 1927 conseguida devido aos contatos de Gustavo Coelho aquando do seu destacamento em Ponta Delgada.
Para além da filarmónica Artístico Funchalense, Gustavo Coelho marcou a produção dramático-musical regional do segundo quartel do século XX, com presença em sociedades artísticas e culturais para as quais produziu peças instrumentais para uma revista de variedades da autoria de Adão Nunes, apresentada pela Academia Funchalense, no Teatro Municipal em 1929.
Compôs outras peças para revista de variedades como Olha para Isto, com texto de Teodoro Silva e Calado Nunes e coreografia de Henrique Martins, apresentada cinco vezes no Teatro Variedades em Lisboa, com o apoio do I.N.A.T.E.L. Gustavo Coelho também criou as revistas Viva Grândola, Scenas de Coimbra, Oh! Quem me dera (canção) e Súplica.
Na sua obra persistem ainda outras peças dedicadas à música de bandas filarmónicas. Entre as suas composições destacam-se as marchas produzidas no âmbito do 75º aniversário da Banda Municipal do Funchal, oferecidas a esta instituição aquando da tomada da sua direção artística: 6 de janeiro, Machico, Adeus a Machico e Saudação a São Miguel; as marchas graves Martírio, Lágrima, Paixão, Ressurreição, Lazareto, Páscoa; a serenata Noites da Madeira; os hinos do Colégio Lisbonense e da Banda Filarmónica Artístico Funchalense.
Também em 1929 foi nomeado pela Comissão Administrativa da Junta Geral Autónoma do Distrito professor efetivo de canto coral no Liceu Jaime Moniz, com o aval e Ordem do Exército.
A docência de canto coral, a direção e participação em agrupamentos corais é um aspeto transversal e de fulcral importância na biografia de Gustavo Coelho.
Numa época em que o canto coral era parte integrante das atividades curriculares recreativas, com carácter de propaganda, formação política e promoção de valores e bons costumes para a juventude: uma caraterística da formação académica no regime político do Estado Novo.
O músico esteve também relacionado com o Orfeão dos Artistas, Orfeão da Escola de Santa Cecília, agrupamentos musicais que estavam associados à Banda Municipal do Funchal; Orfeão Académico, Orfeão Madeirense; e lecionou harmonia, composição e solfejo na Academia de Música da Madeira (atual Conservatório Escola das Artes da Madeira Eng.º Luíz Peter Clode).
Quando passou à reserva em 1938 Gustavo Coelho pode repensar uma carreira na música civil. Nessa época integrou a direção artística da Sociedade de Concertos da Madeira, criada em 1943, e o corpo diretivo da Grande Orquestra Madeirense, constituída em 1944.
Uma nova fase que levou ao prolongamento da sua nomeação como professor efetivo de canto coral até 1948, de acordo com o requisito do Ministério da Educação Nacional.
Devido à sua crescente e significativa atividade no ensino oficial público, em 1948 Gustavo Coelho foi convidado para integrar a direção artística do Orfeão da Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho – F.N.A.T., uma coletividade criada pela Delegação Regional que tinha como objetivo exibições musicais em serões dedicados às classes trabalhadoras.
O músico deixou a sua carreira militar, mas tornou-se um militante no ensino, como professor conceituado e intelectualidade musical em diversas organizações e instituição da época.
No campo artístico Gustavo Coelho ainda colaborou com Eugénia Rêgo Pereira na composição de um quadro intitulado Despedida das Andorinhas.
Ao longo da vida Gustavo Augusto Coelho sofreu de vários problemas de saúde e foi muitas vezes hospitalizado no Hospital Militar de Lisboa. Por estas razões em setembro de 1965 estabeleceu residência em Lisboa, onde residiu na Rua 12, N.º 17 do Bairro de Santa Cruz, Benfica, onde faleceu a 21 de dezembro de 1965.

Autoria:
Pinto, Rui Magno (2008). “Gustavo Coelho”. In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística, p. 57-59.

Atualização:
Ventura, Ana (2011). “COELHO, Gustavo Augusto”. In Dicionário Online de Músicos na Madeira. Funchal: Divisão de Investigação e Documentação, Gabinete Coordenador de Educação Artística, atualizado em 13/07/2011.

Música:
Olha para isto, peça para revista de variedades; Viva Grândola, revista de variedades; Scenas de Coimbra, revista de variedades; Oh! Quem me dera, revista de variedades; Súplica, revista de variedades; 6 de Janeiro, marcha; Machico, marcha; Adeus a Machico, marcha; Saudação a São Miguel, marcha; Martírio, marcha; Noites da Madeira, serenata; Hino da Banda Filarmónica Artístico Funchalense.

Bibliografia:
Carita, R. & Melo, L. F. (1988). 100 Anos do Teatro Municipal Baltazar Dias. Funchal: Câmara Municipal do Funchal, p. 103.
Diário de Notícias (1876 – ). “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: publicado em 17/08/1919, p. 1.
Diário de Notícias (1876 – ). “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: publicado em 10/05/1925, p. 1.
Diário de Notícias (1876 – ). “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: publicado em 04/10/1922, Anexo 296, p. 3.
Morais, M. (coord.) (2008). A Madeira e a Música: Estudos (c.1508-c.1974). Funchal: Empresa Municipal “500 Anos do Funchal”, p. 443-446.
Freitas, M. P. (2005). Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos. Câmara de Lobos: Revista Girão (1ºSemestre de 2005), Nº1, Vol. II, p. 94.
Gomes, J. V. (2005). Luiz Peter Clode e o Espólio Legado ao Arquivo Regional da Madeira. Funchal: Arquivo Regional da Madeira, p. 23.
Pinto, R. M. (2008). “Gustavo Coelho”. In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística, p. 57-59.
RE-NHAU-NHAU. “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: publicado em 11/03/1933, p. 4.

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