Augusto José Miguéis
(Setúbal, 1836) - (Funchal, 1900)
Resumo:
[Setúbal, Portugal 1836 – Funchal, Madeira 1900]
Augusto José Miguéis foi músico da Banda Regimental, regente da Filarmónica dos Artistas Funchalenses e da Orquestra de Augusto José Miguéis. Destacou-se sobretudo pelo seu desempenho enquanto saxofonista, na Orquestra da Sociedade de Concertos Funchalense, fundada em 1878, onde atuou ao lado de: Ernesto Mascheck, Agostinho Martins Júnior e Eduardo Gomes da Silva.
Biografia:
Natural de Setúbal, o músico fixou residência na Madeira onde residiu até à data do seu falecimento, a 20 de dezembro de 1900. Augusto José Miguéis foi uma das personalidades que se destacou nos eventos sociais da Madeira, em especial nos bailes da alta sociedade Funchalense, como regente da Filarmónica dos Artistas Funchalenses.
Estes eventos encontram-se narrados no livro Apontamentos sobre o Quotidiano Madeirense, pela riqueza musical dos repertórios apresentados, que incluíam polcas, quadrilhas, valsas, galopes e peças de autores clássicos e madeirenses.
As informações sobre a vida de Augusto José Miguéis são escassas. No entanto, sobre o período em que residiu no Funchal e compôs grande parte da sua obra, existem diversas referências na imprensa regional e obras de historiadores.
No Elucidário Madeirense o músico é referido como um dos melhores da década de 1870, “entre os bons músicos de há cinquenta ou sessenta anos [1870s aproximadamente] não podem ser esquecidos os violinistas Nuno Rodrigues e Eduardo Gomes da Silva, e o violoncelista e contrabaixista Miguéis”. No artigo “E os líricos vieram” de Luís Francisco Mello, publicado na Revista Islenha Nº 11, Augusto Miguéis foi narrado como um saxofonista que atuava nos eventos organizados pela Sociedade de Concertos Funchalense.
O Gabinete Coordenador de Educação Artística, da Secretaria Regional da Educação e Recursos Humanos, tem disponível no arquivo da Divisão de Investigação e Documentação partituras manuscritas de oito danças orquestradas por Augusto José Miguéis. Obras que o músico compôs a partir de versões para piano, constituídas por sete valsas e um conjunto de quadrilhas.
O arranjo orquestral mais antigo, disponível em arquivo é a quadrilha Chilperic de 28 de outubro de 1873. Quanto à sua obra mais recente é a valsa Hoja Volante datada de fevereiro de 1884.
Os arranjos musicais realizados por Augusto Miguéis eram essencialmente peças para pequenos grupos orquestrais, cujos instrumentos base eram os seguintes: oitavino (flautim), clarinete, cornetim (trompete), trompa, bombardino, violino e contrabaixo.
As obras orquestradas eram normalmente da autoria de compositores cujas danças tinham enorme sucesso nos bailes dos grandes centros europeus, por exemplo: Au Revoir, valsa da autoria do francês Émile Waldteufel, orquestrada por Miguéis em fevereiro de 1879; e Los Hidrópatas, valsa da autoria do húngaro Josef Gung’l, orquestrada em outubro de 1880.
Entre as obras de maior notoriedade consta ainda o Hymno composto em homenagem a Manuel de Arriaga, primeiro presidente da República Portuguesa, que anteriormente a este cargo representou o arquipélago da Madeira como deputado entre 1882 e 1884. Manuel de Arriaga visitou as ilhas algumas vezes entre 1883 e 1885, época em que Augusto Miguéis compôs o referido Hymno.
Em 1889, o Diário de Notícias publicou na sua edição de 4 de abril, que a estudantina Tuna Cospostellana, composto por cerca de 60 jovens estudantes e músicos, costumava tocar pelas ruas do Funchal, sob a regência do maestro Augusto José Miguéis. Estas atuações de rua eram recebidas pelo público funchalense com grande entusiasmo e “chovia sobre eles um applauso estridente, que elles delicadamente agradeciam parando á ordem do regente e entoando uma deliciosa canção que novos applausos dispertava. A orchestra tocando muito bem; os coros affinadíssimos, tudo em fim num conjuncto magnifico, que toda a gente gabava, que todos saudavam”.
Ainda em 1889 Augusto José Miguéis participou, como regente de orquestra e músico a solo, num grande concerto realizado no Teatro Baltazar Dias. O maestro apresentou as peças da sua autoria com carácter popular: a mazurka Olha a Mulata; e a polka tocada em cornetim Não Te Rias.
Autoria:
Esteireiro, Paulo (2008). “Augusto José Miguéis”. In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística.
Atualização:
Ventura, Ana (2011). ”Augusto José Miguéis”. In Dicionário Online de Músicos na Madeira. Funchal: Divisão de Investigação e Documentação, Gabinete Coordenador de Educação Artística, atualizado em 22/06/2011.
Música:
Chilperic, quadrilha; Hoja Volante, valsa; Hymno, dedicado a Manuel de Arriaga; Olha a Mulata, mazurka; Não Te Rias, polka.
Bibliografia:
Diário de Notícias (1876 – ). “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: Publicado em 09/01/1879, p. 2.
Diário de Notícias (1876 – ). “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: Publicado em 04/04/1888.
Diário de Notícias (1876- ). “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: Publicado em 04/01/1889, p. 3.
Diário de Notícias (1876 – ). “Coleção de Jornais”. In Biblioteca do Arquivo Regional da Madeira [s.n. recurso digitalizado]. Funchal: Publicado em 09/01/1889, N.º 3: 600, p. 2.
Esteireiro, P. (2008). “Augusto José Miguéis”. In 50 Histórias de Músicos na Madeira. Funchal: Associação de Amigos do Gabinete Coordenador de Educação Artística, p. 13-14.
Morais, M. (coord.) (2008). A Madeira e a Música: Estudos (c.1508-c.1974. Funchal: Empresa Municipal “Funchal 500 Anos”, pp. 412, 417.
Freitas, M. P. (2005). Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos. Câmara de Lobos: Revista Girão (1ºSemestre de 2005), Vol. II, Nº4.
Mello, L. F. (07/1992-12/1992). “E os Líricos vieram”. In Revista Islenha, N.º 11. Funchal: Direção Regional dos Assuntos Culturais, p. 18-19.
Silva, A. M. (1932). Apontamentos sobre o Quotidiano Madeirense: 1750-1900. Funchal: p. 134-135,142.